Os efeitos da entressafra do álcool e dos aumentos determinados pelos usineiros já chegaram ao bolso do consumidor.
No Rio, levantamento feito pelo GLOBO em dez postos de diferentes bandeiras constatou que nove reajustaram o preço do combustível nos últimos dez dias. As altas variam de 6,6% a 13,3%. Os reajustes acontecem duas semanas após a crise de abastecimento de gás natural veicular (GNV), quando o consumidor carioca enfrentou aumentos do produto de até 14,59%.
A expectativa, segundo especialistas, é de que o álcool continue com preços elevados até abril, quando começa o período de safra. Segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), a produção de álcool do Centro-Sul do Brasil é realizada entre maio e novembro para ser comercializada o ano todo. Dessa forma, alega a entidade que reúne os produtores de álcool, historicamente existe um nível de preços mais altos no fim da safra e no início da entressafra.
Além da entressafra, a Unica dá outros motivos para o aumento de preço. Segundo a entidade, muitas distribuidoras anteciparam suas compras de álcool e os preços pagos aos produtores tiveram, com isso, uma elevação de 13,14% para o álcool hidratado e 9,03% no álcool anidro na primeira semana de novembro, em relação à semana anterior. Na primeira semana de novembro, o preço do álcool anidro fechou a R$ 0,7776 e o do álcool hidratado a R$ 0,7169. Na mesma semana de 2006, custavam R$ 0,8641 e R$ 0,7592, respectivamente. Apesar desse aumento, os preços de 2007 ainda são os menores dos últimos quatro anos.
No posto Golf, em São Conrado, o álcool subiu de R$ 1,499 para R$ 1,699 (13,3%). No Santa Isabel, na Tijuca, a alta foi de 9,49%, passando de R$ 1,369 para R$ 1,499 nos últimos dias.
E no Dois de Dezembro, no Catete, o reajuste é de 6,6%, de R$ 1,499 para R$ 1,599.
“O aumento médio para o consumidor é de 7%. Os postos estão repassando os aumentos das distribuidoras, que reajustaram, em média, 10% na última semana. Não há espaço para reajustes maiores: há o risco de o posto perder o cliente”, disse Manuel Fonseca, presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis, Lubrificantes e Lojas de Conveniência do Município do Rio (Sindcomb).
Apesar dos aumentos que devem se estender até abril, o reajuste do álcool não deve chegar ao patamar alcançado no ano passado, disse Alísio Vaz, diretor do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e de Lubrificantes. Em fins de 2006, o álcool chegou a ser vendido pelas usinas a R$ 1. Este ano, as distribuidoras compram o produto por R$ 0,71698. Ainda assim, já houve um reajuste de 24% desde outubro.
“As exportações menores também devem contribuir para reajustes inferiores ao que se viu no mesmo período do ano passado”, explicou Vaz, lembrando que as variações de preço até abril vão depender ainda do comportamento do consumidor.
Segundo Vaz, a gasolina deve sofrer pequenos reajustes.
“Por influência do álcool, o consumidor pode comprar a gasolina de três a quatro centavos mais cara”.
A Unica disse ainda que a demanda de álcool no mercado interno está aquecida. Em outubro, o volume de vendas chegou a 1,542 bilhão de litros, ultrapassando a última previsão de 1,450 bilhão de litros. O desempenho é recorde.
O Globo