Exportação de gado bovino vivo, o chamado boi em pé, é a nova tendência do setor pecuário nacional. A prática beneficia os produtores, que têm mais uma opção de negócio – hoje eles têm apenas os frigoríficos brasileiros a quem vender seus animais -, fator que contribuiu para elevar o preço pago pelos animais.
As vendas externas de bovinos vivos movimentam por ano quase US$ 200 milhões. O número de animais embarcados até o mês de setembro – cerca de 299 mil bovinos – é superior ao volume total exportado em 2006, que foi de 245 mil, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Além disso, o preço pago pelos animais também cresceu – mais de 80% -, o que, segundo o mercado, compensou as baixas cotações do dólar registradas este ano. No ano passado, o preço médio do bovino vivo embarcado era de US$ 288. Hoje, é de US$ 544.
Segundo fontes do mercado, para o próximo ano, a tendência é de que cresçam ainda mais os embarques de animais vivos, mas a cotação do dólar e os preços do boi no mercado interno serão os fatores que influenciarão o crescimento. Hoje, a arroba do boi está em torno de US$ 40. Mas, segundo o setor, também é um bom negócio para os países importadores, pois os animais embarcados, a maior parte dos quais se destina a abate e tem mais de 500 quilos, é considerada topo de linha pelos produtores.
O Condomínio Itaverá fez seu primeiro embarque de gado vivo este ano. A Itaverá exportou 15 novilhas prenhas da raça nelore para o Senegal. A expectativa dos donos da Itaverá é de que novos compradores internacionais apareçam, pois os animais embarcados tiveram valorização de cerca de 80%.
Os importadores pagaram pelas novilhas cerca de US$ 900 cada uma, segundo Júlio Cesar Pires, sócio do condomínio. “Se os animais fossem vendidos a frigoríficos brasileiros, o valor pago seria em torno de US$ 500 por cabeça”, afirma Pires.
De acordo com o pecuarista, o valor obtido no negócio está sendo utilizado no melhoramento genético dos animais. O Condomínio Itaverá, que engloba as fazendas Itamoara e Nhu-Verá, instaladas em Campo Grande (MS), somadas têm 8 mil hectares e um plantel com 2 mil matrizes. Por ano, a fazenda, parceira da Lagoa da Serra, abate cerca de 500 animais. “O número de animais abatidos ainda é pequeno, pois estamos em processo de formação das fazendas unidas”, afirma.
AgroExport
Para Alexandre de Castro Cunha, diretor da AgroExport, o mais importante das vendas externas de animais vivos é a liberdade dos produtores, que não têm apenas os frigoríficos brasileiros para vender sua carne. “A exportação é mais um mercado para o pecuarista, que não precisa ficar nas mãos dos frigoríficos.”
A AgroExport, uma das quatro empresas brasileiras que exportam animais vivos e que está no mercado há 18 anos, é uma empresa familiar de origem brasileira, comandada por Silvio de Castro, que também atua nos setores pecuário e canavieiro.
Com o aumento da procura de animais vivos por outros países, a empresa elevou em 200% os embarques e, conseqüentemente o faturamento da empresa. Este ano, a AgroExport, com sede em Uberaba (MG), exportou 60 mil bovinos vivos e a expectativa é de que no próximo ano atinja a casa dos 100 mil animais, principalmente para os países do Oriente Médio. “Nossa grande barreira é a febre aftosa. Muitos países não compram do Brasil por temer a contaminação”, explica Cunha.
Atualmente, o mercado internacional de bovinos vivos é liderado pela Austrália, que vende cerca de 900 mil animais por ano. Boa parte desse gado vai para o Oriente Médio e para a África, que são os principais clientes do Brasil, pois os gastos com logística são semelhantes, uma vez que a distância é semelhante.
Além da aftosa, outro impasse para o negócio é a falta de infra-estrutura nos portos. Hoje, a maior parte dos animais embarcados sai do Pará. De acordo com a direção da AgroExport, o processo de exportação de animais vivos é complexo e inclui seis etapas, como: seleção dos bovinos, exames, quarentena, embarque e adaptação dos animais no novo local.
DCI – Diário do Comércio & Indústria