Nesta sexta-feira (18), cerca de 250 pessoas, entre pecuaristas, estudantes, professores, médicos veterinários, supermercadistas e representantes de frigoríficos e associações, participaram do Workshop Beef Premiun, no teatro da Universidade Vila Velha. O evento, realizado pela Secretaria de Estado da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) e pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), em parceria com entidades públicas e privadas, teve por objetivo promover um debate sobre as tendências e oportunidades do mercado de carnes e produtos especiais no Espírito Santo.
Nas palestras foram discutidas as perspectivas para o setor, a produção e certificação das carnes especiais, assim como as expectativas do consumidor em relação ao produto final. Também foram apresentados cases de sucesso das carnes Angus e Nelore, espécies bovinas criadas em geral para cortes especiais, e as dificuldades que o setor possui para a sua expansão. Mesas redondas foram formadas após as apresentações para que os participantes pudessem tirar dúvidas e interagir com os palestrantes.
As carnes especiais se destacam pela caracterização de cortes e embalagens, além da adoção de processos produtivos e industriais que envolvem conceitos de qualidade, sustentabilidade, redução de produtos químicos, apelo orgânico e de bem-estar animal.
Sobre esse assunto, o gerente de projetos da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Juliano Hoffman, e um dos palestrantes do evento, destaca que não são todas as partes de um animal que são usadas para os cortes especiais, ou seja, que possuem um valor agregado. Além disso, Hoffman também explica que somente a raça do animal não garante sozinha a qualidade da carne, mas que a genética unida ao bom manejo e à boa alimentação podem gerar um produto excelente ao consumidor.
“Existem regiões do animal que são mais comuns, com valor agregado, mas antes de chegar nesta terminação, a genética e a nutrição, durante toda a vida do animal, associadas depois à classificação, sexo, maturidade, marmoreio em relação à peça, é que vão dizer o quanto de um animal inteiro pode ser aproveitado para cortes especiais. Então não é possível retirar cortes especiais de um animal que não tenha sido trabalhado como um todo para produzir aquele corte. O produtor tem que ter em mente que nem todo o animal dele poderá ser classificado para cortes especiais, mas que a carne de cortes especiais só pode vir de um animal que tenha sido produzido de uma forma correta. Não existe carne de segunda, apenas animal de segunda. Então se ele é produzido de uma maneira errada ele não vai gerar nenhum tipo de carne boa”, explicou o gerente de projetos da CNA, Juliano Hoffman.
Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), o Brasil é o segundo país com o maior rebanho de bovinos do mundo, com 208 milhões de cabeças de gado, perdendo apenas para a Índia, que possui 329,7 milhões de bovinos. Com isso a pecuária brasileira emprega mais de 7 milhões de trabalhadores, de forma direta e indireta, e representa uma atividade de grande importância para a maioria dos estados. Entrelaçado a esta produção, o mercado de carnes especiais vem crescendo aos poucos.
O secretário Estadual de Agricultura, Octaciano Neto, explica que um dos maiores desafios para o crescimento deste tipo de mercado no Espírito Santo é fazer com que o produtor compreenda a cadeia produtiva e dialogue com ela. “As redes de varejo têm comprado este tipo de carne, os frigoríficos têm buscado produtos de qualidade. Agora, nós precisamos fazer um trabalho integrado. Não adianta produzir e acreditar que é um mercado spot, do tipo quem paga mais por este produto na hora, é necessário que se exista um diálogo e se firme parcerias. O mercado é grande, tão grande que nossas redes de supermercado hoje trazem um produto de qualidade de carne Angus, de carne Nelore, de fora do Espírito Santo porque aqui nós não produzimos ainda uma quantidade suficiente”, disse Octaciano Neto.
O presidente da Associação Capixaba dos Criadores de Nelores (ACCN), Nabih Amin El Auoar, completou explicando que outro desafio para a expansão é a integração dos setores que compõe todo o mercado de carnes e produtos especiais. Para Amin, o Workshop representa o início de um elo que precisa ser fortalecido. O evento tem ainda mais importância pois permite que todos saibam quais são desejos de cada um nesta cadeia produtiva.
“Isso não é apenas a promoção de um evento, é a promoção de uma integração de todo o setor. Antes todos nós exercíamos trabalhos independentes, e por isto não fechávamos este ciclo, este elo. No momento em que todos nós falamos e também nos ouvimos, passamos a saber quais são os desejos de cada um, e como nós podemos fazer um pacto que desenvolva o setor de uma forma que beneficie todos, especialmente o consumidor final. O maior gargalo é essa falta de integração, de entrosamento, a falta de união, que começa a acontecer agora, com este evento e que eu acredito que irá continuar com outros eventos que permitam o crescimento do setor”, completou o presidente da ACCN, Nabih Amin.
Ingrid Castilho