Produtores de leite sofrem com alta do dólar e aumento de custos

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O leite está refém da crise. É um dos setores mais afetados pelo desarranjo da economia. Do lado do produtor, o efeito da alta do dólar só traz custos. Do lado da indústria, a recessão e o desemprego provocam queda de renda e vendas menores. Diferentemente do que ocorre com a soja, produto que tem como referência externa os preços em dólar – os valores da oleaginosa sobem no mercado interno devido à desvalorização do real –, o leite tem pouca participação na balança comercial. Ao contrário, as importações superam as exportações.

Resta ao produtor de leite pagar mais pela ração, composta em boa parte de grãos –que estão com valores elevados no mercado interno– e gastar mais também com outros insumos importados, cujos preços subiram devido ao dólar mais caro. "O leite seguramente é mais prejudicado do que os outros setores nessa situação", diz Wagner Yanaguizawa, analista do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).

Além dos custos maiores de produção, uma pesquisa do Cepea mostra que a queda do poder de compra dos consumidores faz com que eles substituam leite e derivados (como iogurte) por itens de menor valor, quando não deixa de comprá-los, diz o analista. Para Yanaguizawa, 2015 já foi período de custo elevado e receita curta. O produtor teve o menor preço em cinco anos. E este início de 2016 também é com maiores custos e menores receitas.

Energia cara

Os custos, afinal, vêm não só da ração, que representa 40% dos gastos na produção, mas também de energia elétrica e de combustíveis. Outro fator que inibe uma correção dos preços do leite é a concentração das compras em poucas indústrias, que só reajustam quando há queda na oferta do produto. Esse cenário crítico no setor de leite está levando muitos produtores a sair da atividade, enquanto outros buscam a diversificação. Uma das saídas é manter os bezerros no pasto para uma comercialização mais tarde. Em geral, o produtor mantém apenas as fêmeas. Ao contrário do leite, o gado para carne tem mantido preços em alta nos últimos anos, o que vem favorecendo até o abate de vacas leiteiras.

Diante desse cenário, o analista do Cepea diz que aumenta também a concentração dos produtores, uma vez que os menores não conseguem se manter na atividade. Mas ele alerta para o fato de que este é o momento para que o produtor consiga obter melhora nos preços, uma vez que a oferta de leite é menor. Os preços baixos do ano passado são reflexo da elevada oferta de leite em 2014, o que gerou estoques no setor.

Nos últimos meses, no entanto, o clima não tem favorecido a produção. Em algumas regiões, como o Sul, o excesso de chuva atrapalha a atividade nas fazendas e no transporte do produto. Em outras, como o Sudeste e o Centro-Oeste, as chuvas chegaram tarde, prejudicando pastagens e produção.

Os novos investimentos na atividade são poucos nesse período de baixo rendimento no setor, mas eles são importantes, na avaliação do analista do Cepea. Eles permitem uma elevação da qualidade do leite. No segundo trimestre, os preços do produto devem reagir, devido ao início da entressafra e à oferta menor.  

 

 

Folha de São Paulo

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