A liberação das exportações brasileiras de carne bovina in natura aos EUA deverá ocorrer a partir de abril, após a visita de uma equipe do Ministério da Agricultura do Brasil àquele país para inspeções sanitárias e verificações dos padrões americanos de produção. Segundo informações de Washington e Brasília, os primeiros embarques poderão acontecer ainda neste semestre.
A liberação mútua do comércio de carne bovina in natura foi acertada durante visita da presidente Dilma Rousseff aos EUA em meados de 2015. O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) já mandou uma equipe ao Brasil para fazer as inspeções necessárias, mas ainda tem de enviar ao Ministério da Agricultura brasileiro um questionário com uma série de perguntas complementares sobre o sistema nacional de fiscalização e inspeção.
A missão do Ministério da Agricultura vai para os EUA depois disso. Ao mesmo tempo, disse uma fonte do ministério, os dois países negociam um modelo de certificado sanitário para tornar viável o comércio bilateral.
O setor privado brasileiro entende que será possível vender anualmente até 100 mil toneladas de carne bovina in natura aos EUA em cinco anos, mas o USDA projeta que, em média, serão 40 mil toneladas por ano.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) estima que, se a abertura ocorrer até junho, as exportações poderão chegar a 30 mil toneladas, ou pouco mais de US$ 100 milhões, no segundo semestre de 2016. No total, as exportações brasileiras de carne bovina in natura totalizaram 1,1 milhão de toneladas e renderam US$ 4,7 bilhões no ano passado.
Quando houver a abertura, o Brasil passará a disputar uma fatia de 65 mil toneladas que é destinada a um grupo de países que não têm cotas específicas nem tarifas mais vantajosas para exportar aos EUA.
Segundo o USDA, estão habilitados a exportar carne bovina in natura aos EUA sem taxação México, Canadá, Uruguai, Chile, Costa Rica, Honduras, Nicarágua, Japão, Irlanda, Lituânia, Nova Zelândia e Austrália. Alguns desses países têm cotas mínimas de exportação e, quando ultrapassam seus limites, pagam tarifas.
É o caso da Austrália. O país conta com uma cota de 418 mil toneladas por ano e paga uma tarifa de 21,1% sobre o volume que supera essa quantidade. O Uruguai, por sua vez, pode exportar 20 mil toneladas sem a incidência de tarifa, mas acima disso paga uma taxa equivalente a 26% do valor vendido. O país sul-americano costuma superar esse limite e já chegou a exportar 200 mil toneladas por ano. Estima-se que o mesmo poderá acontecer com o Brasil.
Um dos pontos favoráveis ao Brasil é que frigoríficos do país já vendem carne bovina processada aos americanos. Com esses canais de negociação ativos, é possível que as vendas de carne in natura sejam acertadas mais rapidamente. E esses frigoríficos também deverão ser beneficiados pela valorização do dólar, que favorece as exportações.
Outro ponto positivo da abertura do mercado americano é que, em meio à crise econômica no Brasil, os produtores nacionais terão um grande mercado para explorar, além de contarem com a possibilidade de que novos mercados sejam abertos após a chancela dos EUA, que é uma referência para diversos países.
Atualmente, os EUA importam 1,5 milhão de toneladas de carne bovina in natura por ano, e a tendência é de aumento. Em 2011, por exemplo, foram importadas 933 mil. Já as exportações americanas do produto somam cerca de 1 milhão de toneladas anuais, de acordo com o USDA. Nesse contexto, a abertura americana poderá ajudar o Brasil a reverter a queda em suas exportações de carne bovina, que no ano passado caíram 19,5%% em valor e 12,1% em volume.
Os americanos são os maiores produtores e consumidores de carne bovina. Em 2015, produziram 10,9 milhões de toneladas, quase um quinto do total mundial, e consumiram 11,4 milhões, também um quinto do que é consumido no mundo. No país, a preferência é por carnes com pouca gordura, que podem ser utilizadas na produção de hambúrgueres – um dos pratos mais populares dos americanos.
A abertura do comércio de carnes com os EUA deverá beneficiar 13 Estados brasileiros (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe, Tocantins) e o Distrito Federal.
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