Crise favorece etanol mas deve afetar demanda por combustíveis em 2016

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No ano passado, as usinas de cana viram a demanda interna por etanol hidratado disparar 37,2% em relação a 2014. O avanço, paralelo a um aumento nos preços do biocombustível, é atribuído à crise econômica, porém, o mesmo fator deve se intensificar em 2016 e afetar o consumo dos combustíveis em geral.A opinião é do presidente da consultoria Datagro, Plínio Nastari, para quem existe uma hipótese de que a restrição orçamentária no ato do abastecimento tenha favorecido a procura pelo etanol. Só em 2015, dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP), compilados pelos especialistas da consultoria, indicam que foram consumidos 17,82 bilhões de litros do hidratado no Brasil – dos quais o estado de São Paulo responde por quase a metade.

A recomposição de parte da Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide) sobre a gasolina e a própria relação entre a oferta e a procura colaboraram para preços mais firmes do produto. Na semana passada, o indicador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) registrou a média de R$ 1,9227 por litro de hidratado em São Paulo. No mesmo período de 2014, o índice marcava R$ 1,3856 para a região.

Acreditamos que uma hora a crise vai bater. Nas nossas estimativas levamos em conta uma redução de 3% no Ciclo Otto , [apesar da]demanda por etanol ter se mantido resiliente , explica Nastari. Em 2015, o consumo dos combustíveis de Ciclo Otto chegou a 53,64 bilhões de litros, quase estável diante dos 53,46 bilhões do ano anterior.

Comércio exterior

Para atender a demanda de etanol até o final desta safra (31 de março, oficialmente), a Datagro estima importações na ordem de 200 milhões de litros, a contar de 1º de janeiro. Isso porque os estoques do biocombustível anidro – utilizado na mistura com gasolina – devem chegar ao final da temporada com 0,8 bilhão de litros, contra 1,2 bilhão no mesmo período do ciclo 2014/ 2015. No caso do hidratado, a projeção é de 0,3 bilhão de litros em reserva, em relação aos 1,2 bilhão anteriores. As avaliações de entrada se baseiam em análises realizadas diretamente com os navios.

Em contrapartida, Nastari ressalta que há perspectiva de exportação de 1,8 bilhão de litros de etanol hidratado entre os meses de janeiro e março. O principal player é os Estados Unidos, que tem pago um valor de prêmio pela entrada de biocombustíveis de cana – de-açúcar com baixo teor de carbono. Segundo o presidente da consultoria, atualmente, este benefício está em US$ 127 por tonelada.

Acreditamos que ainda há espaço para ampliar as vendas para os Estados Unidos, falando em médio prazo, principalmente pelo prêmio que é pago , enfatiza o especialista.

A desvalorização da moeda brasileira vem favorecendo os embarques da maior parte de produtos agropecuários desde o ano passado. Como, de acordo com analistas, não há perspectiva de mudança nas políticas de preço interno da Petrobras, a exportação torna-se uma saída para aumentar a receita das usinas.

Em geral, a movimentação no mercado de etanol sustenta a intenção de mix de produção mais alcooleiros. Para a safra 2016/ 2017, 57,3% da matéria-prima deve ser destinada ao biocombustível. Vale destacar que na última temporada o mix direcionava 59,6% da cana para esta finalidade. A desaceleração acontece em função de perspectivas melhores para o açúcar nos indicadores globais, em vista de um déficit nos estoques externos.

Moagem

Em linha com o novo critério estabelecido pelo Ministério da Agricultura, que considera toda a produção acumulada até 31 de março, a Datagro projeta moagem de 625 milhões de toneladas de cana para o centro-sul em 2016/ 2017. O açúcar deve chegar a 33,8 milhões de toneladas, ante 31,18 milhões do ciclo atual. O etanol é estimado em 27,97 bilhões de litros.

 

 

DCI

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