ESPECIAL – A nova geração da agricultura capixaba

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Cada vez mais observa-se no meio rural uma nova geração de produtores e profissionais que estão abraçando o trabalho rural juntamente com seus familiares. Um fato que há alguns anos não era muito comum. São jovens que mesmo com a experiência de estudar nos grandes centros, e até morar na cidade por um período, estão observando no campo o melhor local para se viver e trabalhar. Matheus Martins, 30 anos, é um destes jovens. Neto e filho de produtores rurais de Linhares, ele diz que o trabalho no campo é uma alternativa para uma qualidade de vida melhor. “A vida na cidade é muito agitada e eu não sou do tipo que gosto de ficar preso em um escritório, por exemplo. Trabalhar em meio à natureza é bem melhor e mais prazeroso”, afirma.
 
O jovem, juntamente com o seu pai, administra a fazenda da família na região de Brejo Grande, com o gado de corte, o cacau e a seringueira como principais atividades. Formado em administração, Matheus levou para a agricultura seu conhecimento adquirido com os estudos, mas nem sempre consegue implantar suas ideias. “Eu tento aplicar as coisas que vi na faculdade, mas meu pai nem sempre compreende bem minha intenção e, às vezes, nem deixa que eu seguir com algumas opiniões”, diz o jovem que reconhece a experiência do patriarca. “Ele aprendeu com o trabalho no dia a dia. Eu respeito e sei que a experiência dele é bem grande. Vamos trocando as nossas experiências e vamos nos entendendo para avançar nos resultados”, relata Matheus.
 
O exemplo de Matheus não é isolado. No Espírito Santo, a nova geração de produtores rurais está crescendo.  Alternando entre São Mateus e Linhares, municípios do norte capixaba, a jovem Fernanda Permanhane, 25 anos, é formada em Relações Internacionais, com MBA em Gestão Empresarial. Na família, segundo ela, praticamente todo mundo trabalha na agropecuária. Hoje, mesmo jovem, já é a responsável pelas vendas e pelo financeiro dos negócios do pai nas áreas de fruticultura (mamão), café, seringueira e criação de cordeiros.
A escolha, segundo Fernanda, foi motivada pelas oportunidades que observou analisando o mercado e as possibilidades dentro dos negócios da minha família. “Meu pai é empreendedor, está sempre inovando, investindo em diferentes culturas e buscando melhorias. Eu sempre o acompanhei em reuniões e palestras e assim fui me interessando pelo setor e vendo como eu poderia participar. Percebi que poderia contribuir aplicando os conhecimentos adquiridos na faculdade e no MBA, profissionalizando a empresa familiar”, diz Permanhane.
 
A decisão de permanecer na atividade agropecuária está sendo um período de grande crescimento e aprendizado para a jovem.  Quando iniciou, procurou conhecer um pouco de cada setor e fez vários cursos conversando e buscando informações. Depois, foi assumindo alguns setores nos negócios do pai.  “É gratificante perceber as mudanças que conseguimos implantar e contribuir pela melhoria da empresa. Embora a responsabilidade seja grande, tenho o suporte do meu pai para tudo. Estar em uma empresa familiar  é bom porque a gente tem liberdade, mas também tem suas dificuldades, que com conversa vai se ajeitando. Ainda temos muitos desafios, tanto dentro da fazenda, como reduzir custos, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores, agregar valor aos produtos, quanto fora da fazenda, que vamos buscando participando de debates, reuniões, de associações e órgãos representativos do setor” destaca Fernanda. 
 
Para avançar na gestão rural, Fernanda participa de entidades de classe e cursos voltados para o empreendedorismo. A jovem foi uma das selecionadas pela Federação da Agricultura e pecuária do Espírito Santo (FAES) para o curso CNA Jovem, programa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), que objetivou formar novas lideranças do agronegócio em todo país reunindo pessoas ligadas à agricultura de vinte e quatro estados brasileiros que passaram por encontros e treinamentos do segmento rural. “Todos os debates e projetos elaborados nos proporcionaram um maior entendimento do setor, ampliaram nossa visão de futuro, nos tornando cada vez mais responsáveis por contribuir pelas mudanças necessárias no agro”, diz a jovem.
 
Percebendo este crescimento, a Federação desenvolveu um programa denominado FAES Jovem, que reúne um grupo de jovens que representam junto à federação os jovens do campo, desenvolvendo ações que beneficiem e fortaleçam o trabalho rural. De acordo com Dyovanna Depolo, coordenadora do FAES Jovem, a iniciativa veio de fora do Estado e foi inspirada no CNA Jovem. Os integrantes do programa têm entre 18 e 35 anos e são de diversos municípios do Espírito Santo e tiveram o seu primeiro encontro em Linhares, no mês de agosto, onde realizaram um seminário que discutiu os principais desafios que o setor agrícola do Espírito Santo enfrenta. Para Júlio Rocha, presidente da Faes, esta nova fase que a agricultura capixaba tem vivenciado, com a adesão dos jovens, é de grande importância não só para as famílias que vivem no campo como também para o agronegócio. “Eu vejo que os jovens vão implantar uma nova mentalidade no meio rural no Espírito Santo”, disse Rocha.
 
Muito otimista com esta nova geração, o presidente destaca que a Federação tem buscado oportunizar meios que incentivem ainda mais a permanência dos jovens do campo. Júlio citou o exemplo de um Curso Superior em Agronegócio que já está em fase de implantação; o projeto Agrinho, que neste ano atingiu 70 mil jovens de seiscentas escolas públicas de 56 municípios no Estado; e o Faes Jovem que já está em desenvolvimento. “Nós queremos fazer uma transformação no meio rural. Ampliar a participação do jovem no meio rural, com qualidade de vida, qualificação, melhore oportunidade de ganhos e renovação de lideranças. Esta juventude com a competência que tem vai revolucionar as lavouras capixabas”, concluiu Júlio Rocha.
 
 
 
 

Matéria publicada na Revista Campo Vivo – edição 27 – Set/Out/Nov 2015

Redação Campo Vivo

 

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