A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou nesta quarta-feira (20) a primeira estimativa para a safra de café em 2016. A previsão é de que, por causa da seca, haja uma quebra de 35% na produção esperada de café capixaba. Os dados foram coletados pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper).
Devem ser colhidas no Espírito Santo em torno de 11,1 milhões de sacas de café, sendo entre 3,36 milhões e 3,57 milhões de sacas de arábica, e entre 7,47 milhões e 7,93 milhões de sacas de conilon. Em análise feita pelo Incaper, se o Estado não tivesse sofrido com os problemas climáticos, como seca, má distribuição de chuva, altas temperaturas e grande insolação, a expectativa para 2016 era de colher cerca de 11,5 milhões de sacas.
A produção prevista nesta primeira estimativa está 4,33% maior do que o que foi colhido em 2015 (10,7 milhões de sacas). Isso graças ao arábica. “Foi registrado um crescimento na produção de arábica e uma redução do conilon. Isso porque, no geral, na região onde se planta arábica houve uma melhor distribuição da chuva. A seca interferiu menos no arábica, que já vinha há dois anos com safra baixa” explicou Romário Gava Ferrão, pesquisador do Incaper e coordenador do programa estadual de cafeicultura.
No cenário nacional, de acordo com a primeira estimativa de 2016, a safra brasileira de café deve ser em média 20% maior. O Brasil deve colher em torno de 50 milhões de sacas. A produção do Espírito Santo, que correspondia a 27% do total produzido no país, deve cair para 22%. “O Brasil tem uma produção 20% maior e o Estado deve crescer apenas 4,33%, puxado pelo arábica. Esses números comprovam o grave problema que o conilon capixaba enfrentou nos dois últimos anos. E este problema é a seca”, disse Lucio Herzog De Muner, diretor-técnico do Incaper.
No caso específico do conilon, o Espírito Santo experimentava um franco crescimento. Em duas décadas, a produção do robusta no Estado cresceu em média 15% ao ano. O crescimento dos últimos dez anos ficou entre 8% e 9% ao ano. Mas diante deste cenário de estiagem, que se arrastou pelos últimos dois anos, houve uma ruptura dessa produção crescente.
O caso técnico do conilon
As questões climáticas afetam as lavoura de conilon em vários aspectos técnicos, principalmente se faltar água nas épocas de formação e enchimento dos grãos. A seca dos dois últimos anos, a falta d’água para a irrigação e as altas temperaturas levaram à diminuição do crescimento da planta, tanto vertical como horizontal (crescimento dos ramos produtivos). O vigor da planta diminuiu, assim como a área foliar. Além de folhas menores, houve queda de folhas. A planta faz menos fotossíntese e tem menos reserva de energia para o grão. A indução floral também foi comprometida pela estiagem. Além da menor quantidade de flores, houve abortamento, o que afeta a fertilização e a fecundação (transformação da flor em fruto). Quanto aos frutos, eles são menos numerosos, menores e podem cair. O desequilíbrio pode levar ainda ao maior ataque de pragas como a cochonilha da roseta, lagarta da haste e ácaro vermelho. E mais: a falta d’água pode retardar as adubações, e a escassez de alimento para a planta interfere no seu desenvolvimento e no do fruto. De maneira geral, o déficit hídrico afeta não apenas a produtividade, mas também a qualidade final do produto.
Como é feita a previsão de safra
A estimativa de safra é feita quatro vezes por ano. A previsão divulgada nesta quarta-feira (20) pela Conab é a primeira de 2016. A segunda estimativa, a ser realizada entre abril e maio deste ano quando começa a colheita, deve trazer uma melhor aferição dos resultados. Para estimar a produção, o Incaper utiliza uma metodologia científica padronizada, utilizada em todos os estados produtores. Para esta primeira estimativa de 2016, o levantamento dos dados foi feito entre os dias 10 de novembro e 10 de dezembro de 2015, época de formação do grão. A equipe do Incaper esteve em 606 propriedades rurais. A amostra levou em consideração aspectos como a área plantada, as condições de solo, clima, florada, incidência de pragas entre outros fatores, que seguem o método estatístico preconizado para esta finalidade. Todos os municípios do Espírito Santo foram visitados para o levantamento dos números. “Quando aparecem resultados divergentes, apurados por outras fontes, não significa que uma ou outra previsão de safra esteja incorreta. Significa apenas que foram aplicadas metodologias diferenciadas. Há várias formas de estimar a safra de café, e a metodologia de apuração adotada pelo Incaper vem sendo utilizada pela Conab há mais de dez anos para fazer a estimativa oficial de safra”, finalizou Ferrão.
Juliana Esteves