Desde ontem, as exportações de carne bovina do Brasil para a União Européia (UE) estão totalmente suspensas, e por tempo indeterminado. A notícia preocupa frigoríficos e produtores, mas não deve desestruturar esse segmento produtivo. Em termos de faturamento, a UE responde por 32% das exportações brasileiras de carne bovina, algo em torno de US$ 1,4 bilhão e é o maior cliente brasileiro.
O preço médio da tonelada de carne bovina exportada para UE supera em aproximadamente 70% o preço pago por outros importadores de carne bovina do Brasil. Portanto é, também, nosso melhor cliente.
Entretanto, é necessário lembrar que do total exportado para a União Européia, cerca de US$ 300 milhões referem-se à carne industrializada, que não sofreu embargo e as vendas desse produto para o bloco europeu devem aumentar. De acordo com analistas da Scot Consultoria, a pecuária brasileira atravessa um período de ajuste produtivo e o rebanho está em retração.
Em plena safra da carne bovina, os frigoríficos brasileiros têm trabalhado com capacidade ociosa bastante elevada e escalas curtas. Tem frigorífico trabalhando com metade de sua capacidade de abate e em apenas três dias por semana. Conta ponto para o Brasil, também, que a demanda por carne bovina brasileira fora da União Européia, inclusive no mercado doméstico, se mantém aquecida.
O fato é que o embargo da UE, mesmo que temporário, deixa o mercado do boi gordo sujeito a especulações e, portanto , devem ocorrer baixa de preços, tanto no preço pago ao consumidor quanto nos preços de varejo. Na quarta-feira, de acordo com levantamento da Scot Consultoria, a maior parte dos frigoríficos exportadores estava fora de mercado. No entanto, aqueles que estavam operando, derrubaram as ordens de compra entre R$ 1 e R$ 5 por arroba.
Durante a próxima semana os negócios nesse setor devem permanecer estagnados. Porém, após o Carnaval, espera-se que a oferta de animais terminados melhore um pouco. Isso pode facilitar a imposição de recuos para o boi gordo por parte das indústrias frigoríficas.
Direcionamento
Os analistas do setor, afirmam que mercado interno não tem excesso de oferta e avaliam que a carne bovina brasileira deve encontrar outros canais de venda, em substituição à UE, sem muitos problemas. Os próprios frigoríficos acreditam nesse andamento. Tanto que têm emitido comunicados otimistas ao mercado, inclusive com perspectivas de aumento de faturamento.
O Grupo Marfrig, um dos maiores produtores de carne bovina e subprodutos na América Latina, acaba de anunciar que as suas nove unidades de abate de bovinos no Brasil terão sua produção de carne in natura direcionada à exportação para outros destinos que não a União Européia, em respeito às restrições à importação da carne bovina.
A empresa informou que focará no fortalecimento do mercado doméstico e não reduzirá o ritmo de sua produção. Ressaltou ainda que, como não há restrições para exportação de carne cozida, prosseguirá com projeção de maior demanda desse produto para as quatro unidades de industrializados no Brasil (Pampeano, Louveira, Promissão e Entre Rios).
A unidade Pampeano, no Rio Grande do Sul, já está em obras de expansão para dobrar a capacidade atual de produção de 117 toneladas/dia de carne industrializada. Já as nove unidades na Argentina e no Uruguai trabalharão em plena capacidade e a expectativa é de melhoria nos resultados em função da maior demanda por exportações desses dois países para a Europa.
“Manteremos também os objetivos de resultado para 2008 recentemente divulgados ao mercado”, assegura Ricardo Florence, diretor de Relações com Investidores do Marfrig.
Regras precisam ser claras
Embargo branco. Assim o presidente do Fórum Nacional Permanente de Pecuária de Corte da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Antenor Nogueira, avaliou a decisão da Comissão Européia de não publicar a lista de fazendas brasileiras autorizadas a exportar para aquele mercado, conforme auditoria feita pelo Ministério da Agricultura e Agências de Defesa Estaduais.
Dessa forma, o Brasil está impedido de exportar carne bovina in natura para os países da União Européia (UE) até que o serviço sanitário da Comissão Européia indique o grupo de fazendas que servirá de base para uma nova inspeção a ser realizada no final de fevereiro.
“Essa posição é absurda. Tentar restringir o número de propriedades é uma forma de embargo à carne brasileira. Se considerarmos a média brasileira de 400 cabeças por propriedade, as 300 fazendas, propostas pela UE, não representam, por mês, nem um contêiner exportado para a UE”, explicou Antenor Nogueira.
Uma delegação européia virá ao Brasil, no dia 25 de fevereiro, para auditar o sistema e o trabalho realizado pelo serviço oficial brasileiro. Para a CNA, os pecuaristas que já investiram e tiveram suas propriedades classificadas como Estabelecimento Rural Aprovado no Sisbov (Eras) têm o direito de fazer parte da lista e o Ministério da Agricultura tem o dever de garantir a inclusão dessas fazendas.
A entidade pede, também, ainda mais clareza e transparência nas regras da UE. “Queremos regras que tenham início, meio e fim e sinalizem o que o País tem de fazer”, argumentou Nogueira. Para o Fórum da CNA, essa decisão não está embasada em questões sanitárias, como o próprio relatório da UE afirma, mas em critérios comerciais.
Jornal de Brasilia