A decisão da União Européia de suspender as importações de carne bovina brasileira provocou queda nos preços do boi gordo no mercado futuro e poderá acelerar o ligeiro recuo das cotações ao consumidor que já começou a ocorrer neste mês por causa do fim da entressafra.
O contrato de boi gordo para fevereiro negociado na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) recuou ontem 3,14% na comparação com o dia anterior. A arroba foi cotada a R$ 69, ante R$ 71,24 na terça-feira. Todos os contratos tiveram retração, observa o analista da Scot Consultoria, Leonardo Alencar. Ele diz que a retração reflete a perspectiva de uma oferta maior de produto no mercado doméstico, que absorve 75% da produção.
No mercado físico, as cotações não tiveram alterações. Na praça do Triângulo Mineiro, em Minas Gerais, de onde sai parte do produto para exportação, a arroba do boi rastreado foi cotada a R$ 73, segundo Alencar. Com o embargo, ele observa, os frigoríficos tentaram ontem comprar boi rastreado por um preço menor, de boi não rastreado. Mas, na prática, as compras de animais para abate estão paralisadas nesta semana, pois os frigoríficos já temiam que os importadores europeus suspendessem os embarques em fevereiro.
O presidente da Associação Nacional dos Confinadores (Assocon), Fábio Dias, diz que a interrupção de compra da União Européia permitirá ao produtor conhecer a formação de preço no mercado interno. Ele acredita que a tendência é de queda no valor da arroba, mas considera ainda prematuro avaliar o impacto desse recuo. O mercado estava pressionado por falta de boi pronto para abate, o que mantinha a tendência de alta da arroba.
Para os confinadores, a situação pode não se alterar. Esse grupo, ainda pequeno no Brasil, está agora repondo o gado para a engorda. Esses produtores só vendem o animal a partir do segundo semestre, quando o período de inverno provoca queda na oferta da pecuária extensiva, por causa da seca.
CONSUMIDOR
Antes mesmo do embargo da União Européia à carne brasileira, o preço do produto no mercado interno já dá sinais de recuo em razão do fim da entressafra. Dados do Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), mostram que o consumidor pagou 1,25% menos pelo produto este mês, depois de o preço ter subido 8,06% em dezembro.
Essa mudança de sinal nos preços também foi registrada no atacado este mês. Os preços dos bovinos recuaram 3,20% em janeiro no atacado e tinham subido 9,47% em dezembro. Segundo o coordenador de Análises Econômicas da FGV, Salomão Quadros, a perspectiva é de que os preços recuem ainda mais com o embargo da carne pela UE.
O Estado de São Paulo