Para reservar água no meio rural, existem diversas tecnologias, simples e de baixo custo, que podem ser adotadas pelos agricultores. Entre as recomendadas pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) estão as caixas secas, as barraginhas e o terraceamento.
As caixas secas são reservatórios tecnicamente dimensionados, construídos, em geral, nas margens de estradas para captar as águas de chuva. A técnica evita enxurradas, erosão, assoreamento dos rios e depredação das estradas pela chuva. Em tempos de estiagem, as caixas secas aumentam o armazenamento de água e o abastecimento do lençol freático, o que favorece as nascentes e a vazão dos rios.
A técnica já existe há muitos anos, e começou a ser implantada no Espírito Santo em 2008, no município de São Roque do Canaã. O engenheiro agrônomo do Incaper, Aliamar Comério, sempre considerou as caixas secas como solução para o problema da estiagem no Estado.
Segundo o engenheiro agrônomo do Incaper, a técnica controla o nível dos mananciais por favorecer a infiltração gradativa de água no solo. "Os reservatórios construídos à beira das estradas, onde não há margem íngreme, impedem que a água escorra morro abaixo e arrastem partículas sólidas que provocam o assoreamento dos mananciais e prejudicam a atividade agrícola. Dessa forma, a água retida nas caixas secas infiltra-se, contribuindo para o enriquecimento do lençol freático na época de chuvas, e o abastecimento das nascentes no período de secas", explica.
Para a implantação do projeto são necessários alguns cuidados, como a elaboração de projetos tecnicamente dimensionados. É fundamental calcular o volume correto da escavação, devendo-se definir não apenas a água da chuva que se quer captar em 24 horas, como também levar em consideração a largura e a declividade da estrada, juntamente com a cobertura vegetal da microbacia hidrográfica, ente outros aspectos.
"O projeto de Adequação de Estradas Rurais através de Caixas Secas evita o efeito sanfona dos mananciais, ou seja, aumenta a vazão das nascentes, córregos e rios nos períodos de estiagem e reduz a vazão das enchentes nos períodos chuvosos", disse Comério.
Desde o início dos trabalhos, os resultados com a construção de caixas secas foram muito bons. Em 2008, foram construídas, em São Roque do Canaã, 530 caixas secas ao longo de 10km de estrada. Após dois anos de funcionamento, constatou-se um aumento de 51% na vazão de uma das nascentes do Rio Santa Júlia, que foi monitorada mês a mês.
Além disso, foi confirmada a infiltração de aproximadamente 100 milhões de litros d’água para o lençol freático e a retenção de 5.600 m2 de sedimentos sólidos que teriam ido parar nos rios, junto com outras partículas arrastadas pela água ao longo do caminho.
"A experiência de São Roque do Canaã é diferenciada por ter sido monitorada mês a mês, durante dois anos de implantação. Por isso, foi possível demonstrar resultados positivos", afirma Aliamar. Ele destaca ainda que a experiência é a primeira referência bibliográfica do Brasil com resultados monitorados da técnica.
Barraginhas e terraceamento
Outras tecnologias que podem ser adotadas pelos produtores rurais são as barraginhas e o terraceamento. As barraginhas ou bacias de contenção de água consistem na construção de poços para captar água da chuva e também de enxurradas nas pastagens e encostas declivosas, sendo uma tecnologia social desenvolvida pela EMBRAPA Milho e Sorgo – MG, e premiada pelo Banco do Brasil.
Já o terraceamento é uma prática mecânica de conservação do solo destinada ao controle da erosão hídrica, sendo uma das mais difundidas e utilizadas pelos agricultores. O terraceamento baseia-se em dividir uma rampa comprida em várias rampas menores, por meio da construção de terraços que podem reduzir as perdas de solo em até 70-80%, e de água em até 100%, desde que seja corretamente planejado, executado e conservado.
Juliana Esteves e Luciana Silvestre