A dança do café – Tradição popular reverencia principal produto da economia regional

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Saia rodada de estopa, blusa xadrez, lenço amarrado ao pescoço e chapéu de palha. Na cintura, levam a peneira. Cantando a música “Jongo do Irmão Café”, de Wilson Moreira e Nei Lopes, um grupo de meninas da Comunidade de Fátima, em Jaguaré, norte capixaba, mantém a tradição de uma dança que chegou ao município há mais de 35 anos.


Maria Madalena Toniere estudava na Escola Família Agrícola, localizada no município de São Mateus, quando, em 1974, sua professora ensinou a dança a um grupo de alunos da escola para apresentarem pela primeira vez na festa da cidade mateense. A estudante aprendeu e levou a dança para a sua comunidade, em Fátima. Logo passou a fazer parte da cultura do município de Jaguaré, que tem o café como principal atividade econômica. A partir daí, a comunidade, situada a doze quilômetros do centro da cidade, se tornou referência para a dança.


A coordenação desta manifestação da cultura local passou a ser da escola local ‘Patrimônio Nossa Senhora de Fátima’, permitindo a rotatividade dos dançarinos. Estudantes a partir da terceira série aprendem os passos e garantem a tradição até o final da oitava série. Assim, o grupo se renova e não deixa a tradição acabar.


As apresentações acontecem em festas da região. Vestidas como manda o figurino e ao som da música temática, as meninas, em círculo, fazem gestos de reverência ao pé de café. Em seguida dançam fazendo movimentos com as peneiras ao redor da planta. Uma forma de agradecer a natureza pelo principal produto da agricultura regional.


 


 


HISTÓRIA                                                                              


Como a maioria dos nossos primeiros colonos eram descendentes de italianos, povo alegre, amante da música, do canto e da dança, não seria de estranhar que fossem para o trabalho rural cantando, e, por que não? Que dançassem durante ele para retemperar a alma, saudosa da pátria distante.

A dança dá idéia de camponeses indo para o trabalho, num trajeto que interrompem para dançar. À coreografia seguem-se gestos realizados na colheita, correspondentes a: colher o café, mexê-lo na peneira, abaná-lo, sacudi-lo e amontoá-lo. Terminam festejando a colheita.
Usam peneira, objeto indispensável ao mister.


Fonte: Anuário do folclore


 



MÚSICAS CANTADAS NA DANÇA


 


A primeira música cantada pelos participantes da dança do café em 1974 na Escola Família Agrícola, em São Mateus, foi “Sinfonia do Caféde Humberto Teixeira. A música foi ensinada e cantada à capela. Na época, não se conheceu gravação desta canção em discos. Por isso, com o passar dos anos, alguns componentes da dança, já em Jaguaré, resolveram substituí-la pela música “Jongo do Irmão Café” de Wilson Moreira e Nei Lopes, a qual estava disponível em discos e tinha um ritmo mais alegre.


 


Jongo do Irmão Café
(Wilson Moreira e Nei Lopes)

Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usdos, moídos, pilados,
vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!

Meu passado é africano
Teu passado também é.
Nossa cor é tão escura
Quanto chão de massapé.
Amargando igual mistura
De cachaça com fernet
Desde o tempo que ainda havia
Cadeirinha e landolé
Fomos nós que demos duro
Pro país ficar de pé!

Auê, meu irmão café!
Auê, meu irmão café!
Mesmo usdos, moídos, pilados,
vendidos, trocados, estamos de pé:
Olha nós aí, meu irmão café!

Você, quente, queima a língua
Queima o corpo e queima o pé
Adoçado, tem delícias
De chamego e cafuné
Requentado, cria caso,
Faz zoeira e faz banzé
E também é de mesinha
De gurufa e candomblé
É por essas semelhanças
Que eu te chamo “Irmão Café”


 


Sinfonia do Café


(Humberto Teixeira)


Vem lá dos montes abexins ou do Yemen…
Das lendas de Omar ou do pastor…
Floresceu em terras várias e distantes,
Mas aqui, somente aqui, conheceu o esplendor!

Bonito de ver!
Que lindo de ver, que orgulho de olhar!
O homem bendiz
A terra onde brota a riqueza sem par!
E canta feliz,
Nos meses de abril,
fazendo a “derriça”
Colhendo os rubis do Café do Brasil!

Café que nasce até nas serras
E viceja nas terras
Onde dão a copaíba e o jacarandá!
Café que fez a glória de Palheta,
O valoroso bandeirante que nos trouxe
De bem longe,
O ouro-verde para o Grão-Pará!
Café que todo mundo bebe!
Ó fontes de riquezas mil!
Café que fez famosa a Paulicéia
E espalhou aos quatro ventos
E através dos sete mares
A grandeza do nosso Brasil!
Do nosso Brasil!


 


 


Revista Campo Vivo


Matéria publicada na edição 05 – março/2010

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