A tuberculose bovina é uma doença crônica, de evolução lenta e de grande importância no rebanho brasileiro. Ela é muito semelhante à tuberculose humana, 99% dos genes das bactérias que provocam a infecção são semelhantes. Um animal que tenha a doença vai perdendo peso, diminui a produção de leite e emagrece progressivamente até chegar à morte. Há cada vez mais barreiras sanitárias internacionais tentando identificar a doença de uma forma mais precisa para que os rebanhos não sejam contaminados com a bactéria causadora da tuberculose, mas no Brasil o exame, além de não ser muito preciso, leva dois meses para dar resultado. Para acelerar o diagnóstico e melhorar a situação sanitária do rebanho brasileiro, a Embrapa Gado de Corte está desenvolvendo um novo método de diagnóstico em lesões sugestivas que vai permitir que o resultado fique pronto em, no máximo, um dia e diga qual é a bactéria causadora das lesões.
O principal benefício é aumentar a sensibilidade da cobertura diagnóstica da tuberculose e gerar um diagnóstico mais preciso porque hoje quando se encontra uma lesão sugestiva o veterinário já atesta que aquele animal tem a tuberculose e pode ser uma bactéria que causa uma lesão semelhante. Isso reflete na melhoria do status sanitário do rebanho brasileiro e é importante, principalmente, para o mercado de exportação. Isso tem impacto também positivo em saúde pública porque a tuberculose bovina pode infectar o ser humano — ressalta o pesquisador Flábio Ribeiro de Araújo, da Embrapa Gado de Corte.
As lesões sugestivas, atualmente, são as indicadoras de que o animal está infectado com tuberculose. Ela pode ser encontrada em vários órgãos do corpo e tem aspecto semelhante a um queijo, com granulosidade, segundo Flábio. O que ocorre hoje em dia é que muitos veterinários diagnosticam os animais como sendo tuberculosos apenas por eles apresentarem estas lesões e elas não necessariamente são causadas pela bactéria bovis, causadora da tuberculose bovina. Bactérias causadoras de outros problemas animais também podem causar lesões do mesmo tipo e confundir os veterinários. Além disso, nem sempre os animais com tuberculose apresentam lesões sugestivas aparentes.
O diagnóstico que é feito atualmente é baseado em uma reação cutânea. Há um derivado proteico que é feito de cultura da microbactéria que causa a tuberculose. O animal que é positivo apresenta um endurecimento na pele. Esse endurecimento é medido e dependendo do tamanho é considerado positivo ou não. O diagnóstico é feito em abatedouros no momento do abate dos rebanhos e quando se encontra animais com lesões semelhantes à tuberculose eles são separados. Dependendo da condição da carcaça ele é condenado ou destinado para conserva se as lesões forem localizadas. A cultura demora cerca de 2 meses para ter resultado e ainda passa por uma bateria de testes bioquímicos. O problema é que no abatedouro o diagnóstico é feito apenas da lesão sugestiva e nós sabemos que existem bactérias que causam lesões parecidas com a tuberculose, mas não são — explica Flábio.
O pesquisador diz que a novidade é identificar o DNA de microbactérias específicas causadoras das lesões em um aparelho especializado que faz o mapeamento em alguns minutos e diz se aquela bactéria encontrada é a bovis (causadora da tuberculose bovina) ou não. Para que este processo funcione na prática, o grupo de pesquisadores da Embrapa precisa estudar uma série de bactérias e desenvolver o novo mecanismo. A equipe já está trabalhando há 1 ano e meio, mas, segundo o projeto original patrocinado pelo CNPq e pelo Ministério da Agricultura, ainda falta mais 1 ano e meio de pesquisas para que o novo método de diagnóstico rápido esteja em funcionamento.
Mesmo sem as condições ideais de diagnóstico, que podem ser oferecidas por essa nova pesquisa, os produtores brasileiros que exportam carne para o exterior e precisam ter algum tipo de certificado podem se inscrever no programa brasileiro de certificação de brucelose e tuberculose do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento). Existem dois tipos de programa em que as propriedades podem ser classificadas como monitoradas ou livres de tuberculose. Nos dois casos, os programa são voluntários e é o produtor que deve procurar pelo certificado.
Basicamente, o que diferencia um programa do outro é quantidade de animais que serão testados. Nas propriedades monitoradas existe um percentual de animais que são testados regularmente, já para ser uma propriedade livre todo o rebanho tem que ser testado a cada dois meses e a propriedade tem que estar há 3 anos sem nenhum animal positivo no rebanho. Para participar de eventos e exposições este exame também tem que ser feito porque a legislação não permite que haja confinamento de muitos animais sem essa garantia — diz o pesquisador.
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