Depois de 30 anos de estagnação, o setor agropecuário voltou a oferecer emprego. Tomou o sentido inverso do percorrido nas últimas décadas, quando liberou mão-de-obra em favor de outros setores da economia, como o de serviços e a indústria. Segundo o professor de Estratégia da Universidade de São Paulo (USP), Marcos Fava Neves, a demanda por alimentos e por energia estimula a atividade no campo.
– Mesmo com a mecanização, a oferta de emprego avança para o trabalho nas diversas lavouras, especialmente na cultura da cana-de-açúcar – diz Neves.
Para ele, essa tendência deve-se manter nos próximos anos, pelo potencial brasileiro de crescimento da produção agrícola. Segundo informa, o setor canavieiro é o que mais participa na expansão do emprego. Em média, ocupa seis trabalhadores por hectare, contra apenas um trabalhador por hectare na pecuária.
A baixa capacidade de ocupação de mão-de-obra é ainda mais acentuada na cultura da soja. De acordo com a Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), a produção de soja ocupa apenas seis trabalhadores para cada mil hectares em média. Mas a entidade explica que a atividade contribui para a geração de mais 3,8 empregos indiretos e 12,6 vagas indiretas, por cada hectare plantado.
O professor da USP explica que a cadeia do agronegócio representa de 35% a 40% do total de empregos no país e que só o setor agropecuário representa 10% deste total.
De acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, o emprego no campo cresceu 5,83% no acumulado até abril, ficando com um saldo de 87.343 novos postos de trabalho. Mesmo inferior ao do ano passado, quando 91.785 trabalhadores foram contratados, a expectativa do setor é de que os números vão continuar evoluindo.
A região que mais expandiu em contratações foi a do Centro-Oeste, com um índice de 11,17% no período e um saldo de 23.537 vagas. Já a região Nordeste perdeu 19.852 empregos (-7,76%).
Rodolfo Tavares, presidente da Comissão Nacional de Relações de Trabalho da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária (CNA), diz que a mão-de-obra rural tende a sofrer grandes transformações por causa da tecnologia e da mecanização. A preocupação do CNA, diz, é atender a demanda por qualificação da mão-de-obra.
– No caso da cana-de-açúcar, os trabalhadores poderão ser preparados para operar máquinas. Precisamos atender esse novo passo da agricultura nacional – conclui.
A Sociedade Rural Brasileira (SRB) concorda que é necessário uma ampliação da política social de qualificação.
– Não podemos descuidar dos incentivos nesse sentido. Isso já faz parte da política global da SRB – argumenta Cesário Ramalho da Silva, presidente da instituição.
Jornal do Brasil

