Com o objetivo de promover a troca de conhecimento e incentivar a preservação dos manguezais, nessa segunda-feira (08), foi realizado o “Encontro de Catadores de Caranguejo do Espírito Santo”, em Carapina, Serra. O evento reuniu mais de 100 pessoas, no Centro de Educação Ambiental da Fundação Alphaville Jacuhy.
A coordenadora do Programa de Aquicultura e Pesca do Incaper, Lucimary Soromenho Ferri, abriu o evento agradecendo aos parceiros. “Esse é mais um encontro que tem o intuito de levar a todos os envolvidos a importância da integração entre os grupos e reforçar a busca da preservação e recursos para o ecossistema dos manguezais, como um grande benefício para o município e para o próprio pescador”, acrescentou.
Catadores dos municípios de Aracruz, Vitória, Serra, Cariacica, Anchieta e São Mateus e técnicos envolvidos com a atividade, acompanharam uma mesa redonda com o tema “Ecossistema Manguezal e caranguejo-uçá: preservação e recurso”.
Participaram dos debates a socióloga e assessora técnica da Secretaria de Meio Ambiente de Vitória, Cláudia Solares, que tratou sobre as etapas do “Projeto Remanguezar”, que tem como objetivo a recuperação de manguezal em Vitória; a oceanógrafa e professora titular da Universidade Federal do Espirito Santo (Ufes), Mônica Maria Pereira Tognella, que resgatou informações sobre a realidade dos manguezais do Espírito Santo; e o engenheiro agrônomo e extensionista do Incaper, Jorge Gomes Soares, que reforçou sobre experiências produtivas nos manguezais.
“O projeto começou em 2010, mas outros locais estão adeptos ao desenvolvimento de trabalhos voltados para a preservação dos mangues como o Rio de Janeiro, os Estados Unidos e até a Índia”, contou a socióloga Cláudia.
Ela citou como os principais impactos ambientais ocorrentes no projeto, o lançamento de esgotos domésticos e lixo, o avanço da urbanização e ocupação irregular, assoreamento dos canais, fragmentação e supressão da vegetação, alteração da paisagem, pesca, captura e caça predatórias, retirada de plantas e sementes de forma indiscriminada.
Segundo Mônica Tognella o estudo sobre a realidade dos manguezais começou há 12 anos, por conta da morte das árvores do Rio Itaúnas. “Para pensarmos em conservação dos manguezais, é preciso fortalecer pontos como conhecimento da realidade da população de caranguejo em cada localidade de manejo, fecundidade das populações em cada local, número de catadores por região, mapeamento da distribuição dos animais por floresta de manguezal, fortalecimento do defeso e período de reprodução e estudos de povoamento”, afirmou.
O extensionista do Incaper, Jorge Gomes Soares, ressaltou as características da atividade apícola, como uma atividade familiar, lucrativa e com linhas de crédito disponíveis, sendo um importante complemento da renda familiar, já que os manguezais são abundantes no fornecimento da própolis. “A população mundial aumentará muito até 2050 e será preciso produzir uma grande quantidade de alimentos com maior rendimento agrícola, em um cenário agravado pelas mudanças climáticas. A polinização por insetos pode contribuir para solucionar esse problema”, completou.
Em seguida, os pescadores e catadores se dividiram em quatro grupos para realizar um diagnóstico participativo, com a avaliação dos seus manguezais. Em cartazes escritos “passado, presente e futuro”, os trabalhadores – com o apoio dos técnicos também envolvidos – descreviam as suas insatisfações e expectativas para o futuro.
Dentre as anotações dos pescadores e catadores estavam, principalmente, questões como as mudanças na legislação de defeso, com ênfase no uso das “redinhas” não recolhidas durante a cata, atualmente proibidas pela legislação, o que os catadores alegaram ser mais viável, caso utilizada com consciência; interação dos órgãos públicos com os caranguejeiros das comunidades tradicionais; repactuar ações que deram certo no passado; leis técnicas de melhorias de saúde para os catadores; recuperação das áreas degradadas, especialmente por terem sido atingidas pelos rejeitos da lama após o trágico acidente com a Samarco e motivação das novas gerações para dar continuidade as atividades nos manguezais.
Segundo a líder da Associação dos Pescadores da comunidade de Santa Rosa, em Aracruz, no Norte do Estado, é um momento delicado na vida e no trabalho das pessoas que vivem da cata. “Tá difícil encontrar caranguejos maiores, sururu e ostras, especialmente depois das fortes tempestades que aconteceram no ano passado. E agora os nossos manguezais estão secos. Isso enfraqueceu a nossa renda e a nossa motivação para trabalhar. Até a cor das nossas águas mudou”.
Por fim, todos puderam acompanhar mais um momento de diálogo sobre “Governança e atividade do caranguejeiro”, com os representantes do Instituto de Ciências da Terra e do Mar, o engenheiro agrônomo, Josean de Castro Vieira e a oceanógrafa e Mestre em engenharia ambiental, Mariângela de Lorenzo; a nova estrutura da pesca no âmbito federal e regularização dos catadores, com o engenheiro de alimentos e Coordenador Substituto de Pesca e Aquicultura do Estado (MAPA), João Francisco de Almeida Junior; e esclarecimentos da legislação ambiental aplicada e recursos pesqueiros, dada pelo Sargento Rogério.
Para Mariângela o futuro depende do fortalecimento dos grupos dos pescadores e dos catadores. “Vocês têm a garra para batalhar todos os dias. Precisamos encurtar as nossas conversas e nos fortalecer. Atenção para a saúde de nossos caranguejeiros trabalhadores, especialmente.”, lembrou.
“É importante fazermos um resgate de tudo o que já conquistamos. Até 1997 os catadores se quer tinham certidão de nascimento. Só foi possível em uma ação conjunta entre o INSS e o Ministério do Trabalho para que fosse criada essa tipologia e a profissão finalmente fosse regulamentada. Muitas coisas se perderam no caminho, mas precisamos juntos aos órgãos do Estado nos reeducar”, explicou Josean de Castro.
O casal de catadores de caranguejo da Associação de Pescadores e Catadores de Caranguejo de Lajinha (Apescal), de Aracruz, Helena Santos e Joceli Santos, reforçaram a preocupação das atividades com as próximas gerações. “Estamos preocupados com os nossos filhos e os nossos netos. Queremos ter a certeza de que eles estão engajados com as atividades e têm o mínimo de retorno. Os nossos mangues estão sem vida, sem cor e o nosso trabalho é árduo. Trabalhávamos com muita alegria e com muito orgulho, sem medo e sem tantas preocupações”, lembrou dona Helena.
O evento foi realizado pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), Secretaria de Agricultura, Aquicultura, Abastecimento e Pesca (Seag), Prefeitura Municipal da Serra, em parceria com o Instituto Estadual de Meio Ambiente (Iema) e a Prefeitura Municipal de Vitória. O encontro teve o apoio da Fundação Alphaville, do Centro de Educação Ambiental da Jacuhy, da Fundação de Desenvolvimento Agropecuário do Espirito Santo (Fundagres) e da Biscoitos Kebis.
Durante o evento as pessoas também puderam contemplar a exposição do fotógrafo capixaba, André Alves, sobre os manguezais.
Incaper