Preço e safra devem limitar importação de lácteos pelo Brasil

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leite - baldeAs importações brasileiras de lácteos voltaram a crescer em outubro, ainda que num ritmo menor do que em setembro, mas a tendência é de perderem força à medida em que aumenta a oferta de leite no Brasil e que os preços internacionais sobem, indicam analistas.

Em outubro, as importações cresceram 12,2% em volume, para 19.458 toneladas, conforme dados do Ministério do Desenvolvimento (Mdic) compilados pela Viva Lácteos. Em receita, o aumento foi de 19,3%, para US$ 55,979 milhões. De janeiro a outubro, foram importadas 204.754 toneladas, alta de 76,7% sobre igual intervalo um ano antes. Já os gastos com as compras no exterior subiram 46,3%, para US$ 534,205 milhões.

Para Marcelo Costa Martins, diretor- executivo da Viva Lácteos, que reúne laticínios brasileiros, à medida que cresce a oferta de leite no mercado interno com a safra em Minas Gerais e Goiás, a tendência é de que os preços domésticos se ajustem, desestimulando as importações. “Vejo redução nas importações nos próximos meses”, prevê Marcelo.

A recente alta das cotações no leilão da Global Dairy Trade (GDT), referência para o mercado internacional, também indica que deve haver um freio nas importações brasileiras. No leilão do dia 1 de novembro, a cotação média dos lácteos subiu 11,4%, para US$ 3.327 por tonelada. Só o leite em pó integral subiu sozinho 19,8%, para US$ 3.317 por tonelada. No último leilão, do dia 15, houve nova alta, mas menos acentuada. O leite integral alcançou US$ 3.423 por tonelada.

“Com o preço internacional em alta, a tendência é o país reduzir as importações neste fim de 2016 e em 2017”, avalia Valter Galan, analista da MilkPoint. Além disso, a produção está em queda em países que fornecem lácteos ao Brasil, como Uruguai e Argentina. A consultoria estima que no primeiro semestre do próximo ano possa haver uma redução de 25% a 30% nas importações brasileiras de lácteos na comparação com os volumes vistos em igual período deste ano.

Segundo Galan, os fatores que explicam a volta dos preços internacionais aos níveis históricos estão ligados à oferta. O cenário de queda nas cotações este ano levou a uma retração na produção na Nova Zelândia, maior exportador mundial de lácteos. Além disso, desde junho passado a disponibilidade de matéria-prima começou a cair na União Europeia, depois que o fim dos sistemas de cotas (a partir de abril de 2015) alavancou a produção, derrubando os preços aos pecuaristas. Entre junho e setembro deste ano, a produção na UE recuou quase 2%.

Essa redução nos preços explica o recuo na produção europeia a partir de junho, segundo Galan. Mas a retração da produção foi influenciada também por medidas da Comissão Europeia de apoio as produtores, como financiamento à estocagem e subsídio para aqueles que reduzirem a produção de leite. Com essas medidas que devem sustentar os preços, a tendência é de leve alta na produção europeia no próximo ano, diz.

O analista admite que o comportamento do câmbio – que também influencia o mercado de lácteos – é incerto após a vitória de Donald Trump nas eleições americanas. De qualquer forma, um dólar mais valorizado, como nos últimos dias, também pode desestimular as importações.

Em relação às exportações brasileiras de lácteos, Galan é pessimista e não vê perspectiva de avanço no curto prazo.

Marcelo Costa Martins, da Viva Lácteos, admite que as exportações “continuam sendo um desafio” e que os volumes estão “aquém do que gostaríamos”. Mas reforça que o Brasil segue trabalhando para abertura de novos mercados.

O Japão é um dos que estão no foco dos exportadores. Em outubro, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Eumar Novacki, esteve no país onde discutiu a retomada das vendas de lácteos àquele mercado. O Japão já comprou queijos processados brasileiros no passado, como explica Martins, mas altas tarifas de importação (entre 35% e 40%) desestimularam os negócios. Ele diz, no entanto, que como o Japão importa 80% do queijo processado que consome, todos os exportadores enfrentam tarifas elevadas. Assim, todos estariam em condições relativamente iguais de competição.

Além de queijo processado, os japoneses têm interesse em requeijão brasileiro, segundo Martins. A estimativa é que exportadores brasileiros (cujos nomes não são divulgados) possam exportar meia tonelada de queijos e requeijão ainda este ano.

Valor Econômico

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