O confinamento de bovinos no Brasil ocorre principalmente na fase de terminação e por um período curto de tempo: em média 80 a 100 dias. E as diversas mudanças no ambiente do animal têm importantes impactos no seu bem-estar, como a baixa disponibilidade de espaço que pode dificultar a adaptação, provocar doenças e reduzir o desempenho dos animais, principalmente, por aumentar as montas e brigas entre os bovinos e acrescer a quantidade de poeira ou lama no ambiente.
Para o médico veterinário Renato dos Santos, responsável pela área de manejo racional da Beckhauser, o bem-estar está diretamente ligado na rentabilidade dos negócios. Por isso, é de extrema importância estar atento a tudo que cerca o gado. “O confinamento é um dos locais mais importantes para se aplicar o bem-estar animal. Aumentar a disponibilidade de espaço para bovinos de corte é fundamental, pois reduz o estresse, melhora o desempenho e a qualidade das carcaças. No entanto, é preciso aliar a outras iniciativas e se preocupar com sodomia, o piso ao redor dos bebedouros e coberturas dos cochos, por exemplo. Se o produtor não der condições para o rebanho, o confinamento fica inviável”, alerta o especialista.
Os resultados de um estudo, conduzido pela doutora em zootecnia e professora da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), integrante do grupo de pesquisa ETCO (Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal), Fernanda Macitelli, revelou que animais em confinamento com espaço disponível de 24m²/animal tiveram melhores rendimentos, dos que os mantidos em 6 e 12 m².
De acordo com a pesquisa, os 24m²/animal ofereceu melhores condições ambientais, evidenciada pela menor frequência de ocorrência de poeira e profundidade da lama na temporada de chuva, menores porcentagens de animais com corrimentos nasal e ocular e com problemas de locomoção, além de menor porcentagem de diagnóstico de bronquite, enfisema pulmonar, nefrite e cisto urinário.
Outros fatores positivos notados nos animais que ficaram com o maior espaço foram: o maior ganho de peso médio diário e o menor número médio de hematomas na carcaça. Os animais, mantidos em 6 e 12 m², engordaram 1,6 e 1,69kg/dia respectivamente, enquanto os que foram mantidos nos 24m² ganharam 1,77kg/dia. Em contrapartida, adicionalmente, o custo de manutenção dos currais foi maior conforme a redução do espaço, uma vez que se gastaram mais horas de máquinas para limpeza dos currais, mais cascalhos e maior manutenção das cercas.
Segundo a zootecnista, no Brasil não há um padrão estabelecido de área por animal no confinamento. “A média disponibilizada pelos produtores é de 8 a 12 m²/animal, mas não existe um consenso, sendo recomendado por técnicos de 8 a 50 m²/animal”, aponta.
Para ela é inegável que a adoção de sistemas intensivos pode sim aumentar a capacidade de produção de bovinos e que a demanda pela mesma continuará crescente nas próximas décadas. Entretanto, a especialista ressalta que muitas análises financeiras são realizadas visando à lucratividade dos sistemas, mas nenhuma delas considera o quanto se deixa de ganhar ao manter os animais tentando se adaptar a um ambiente que não atende às suas necessidades.
“A bovinocultura de corte brasileira apresentou transformações notáveis nas últimas décadas, resultantes principalmente da utilização de cruzamentos interraciais bem como da aplicação de sistemas mais intensivos de produção como integração lavoura-pecuária, semiconfinamento e confinamento. É necessário ressaltar que apesar do confinamento de bovinos ser benéfico para a melhoria na eficiência de produção de carne, existe o risco deste sistema não contemplar as necessidades dos animais, dentre elas, boas condições de conforto físico e psíquico”, salienta.
O estudo ocorreu durante o segundo ciclo de confinamento (setembro a novembro), com 1350 machos inteiros e teve o objetivo de avaliar as implicações da disponibilidade de espaço no bem-estar, desempenho e qualidade de carcaça e carne de bovinos de corte confinados. Todos os animais receberam a mesma dieta e foram utilizados indicadores de bem-estar animal com base no ambiente como escore de poeira e profundidade da lama.
Assessoria Beckhauser