Cultivo do abacaxi “Vitória” apresenta bons resultados no Espírito Santo

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abacaxi vitoriaO cultivo do abacaxi “Vitória” foi alvo de estudos pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper). Os dados dessa pesquisa mostra que a fruta tem apresentado alta produtividade em relação às demais cultivares no Espírito Santo, além de ser resistente à fusariose, ter ótima aceitação comercial para o consumo in natura e para a agroindústria.

De acordo com o responsável pelas pesquisas com a cultivar, José Aires Ventura, do Incaper, a partir dos coeficientes técnicos característicos das principais regiões produtoras de abacaxi no Espírito Santo, em um trabalho conjunto com a pesquisadora Edileuza da área de economia do Incaper, foi possível estimar e comparar os custos de produção. No sistema de produção em fileira simples, o lucro da cultivar Vitória foi superior ao da cultivar Pérola em 274% e, em fileira dupla, proporcionou um lucro de 251% superior ao da cultivar Smooth Cayenne.

 “Ficou evidenciado ser mais viável economicamente produzir o abacaxi ‘Vitória’ em função da sua produtividade 76,2% superior quando comparada à cultivar Pérola, e 31,7% quando comparada à Smoth Cayenne”, explicou o pesquisador.

Segundo José Aires, o abacaxi é cultivado geralmente em pequenas propriedades rurais com áreas de 1,0 a 5,0 ha, empregando principalmente a mão de obra familiar. As doenças que ocorrem na cultura do abacaxi são a maior limitação na produtividade dos pomares e na qualidade dos frutos, refletindo economicamente no agronegócio da fruta. O controle genético apresentou-se como uma alternativa promissora na obtenção de novas cultivares comerciais com resistência à doença, sendo o seu uso, sem dúvida, o método de controle mais eficiente e econômico, principalmente para as culturas de importância econômica, como o abacaxi.

A cultivar Vitória quando plantada principalmente por agricultores de baixa renda e pouco conhecimento tecnológico provoca um aumento na produtividade, além de reduzir o custo de produção pela eliminação da aplicação de fungicidas. “Ampliar os conhecimentos sobre a epidemiologia e o agente causador da doença são fundamentais para o desenvolvimento e a seleção de novos genótipos resistentes à fusariose e para o conhecimento dos mecanismos de resistência da planta, que possibilitou recomendar aos produtores alternativas de controle e aumentar em pelo menos 40% a produtividade da cultura, com a produção de frutos competitivos nos mercados interno e externo do agronegócio abacaxi”, explicou Aires.

O pesquisador do Incaper José Aires Ventura ficou em 1º lugar com o projeto “Abacaxi resistente à fusariose com qualidade para o mercado interno e externo” – Abares, na categoria “Pesquisa” durante o Prêmio Destaque do Incaper de 2016.

Os estudos com o Abacaxi ‘Vitória’

Na avaliação dos genótipos resistentes à doença, os trabalhos foram conduzidos nos municípios de Linhares, Sooretama e Cachoeiro de Itapemirim. Os tratamentos foram constituídos pelas variedades ‘Pérola’ e ‘Smooth Cayenne’ e mais dez híbridos selecionados com resistência à fusariose. Durante a fase de desenvolvimento vegetativa das plantas, foi ainda determinada a incidência da murcha causada por vírus PMWaV.

A pesquisa viabilizou a expansão do abacaxi no Norte do Espírito Santo, pelo Incaper, com abrangência de 32 municípios, com um fomento de 1,7 milhão de mudas distribuídas para os produtores pela Secretaria de Estado da Agricultura, Aquicultura, Abastecimento e Pesca (Seag). “No entanto um fator limitante ainda é a disponibilidade de mudas para os produtores rurais que desejam ampliar as suas lavouras”, reforçou Aires.

O projeto foi executado com o suporte técnico do Laboratório de Fitopatologia do Centro Regional de Desenvolvimento Rural (CRDR – Centro Serrano) e das Fazendas Experimentais do Incaper de Sooretama e Pacotuba, bem como do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Nas fases de campo, o projeto também contou com a parceria da Associação dos Produtores Rurais do Centro Norte do Espírito Santo (ARUCENES), da empresa Gaia Importação e Exportação LTDA, como potenciais usuários das tecnologias geradas.

As pesquisas também contaram com o apoio dos pesquisadores do Incaper Hélcio Costa, Adelaide de Fátima da Costa, David dos Santos Martins e Patrícia Machado Bueno Fernandes da Ufes/Biotecnologia.

Retorno para o meio rural

O Brasil possui clima e extensão territorial que o torna um grande produtor de alimentos no mundo, sendo um dos três maiores produtores mundiais de frutas, algo em torno de 34 milhões de toneladas por ano, com condições climáticas favoráveis ao cultivo. O país exporta apenas 1,26% das frutas in natura, ocupando o 20º lugar entre os países exportadores, segundo levantamento já feito pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

De lá pra cá, já foram beneficiadas 35 associações e cooperativas de agricultores rurais nas regiões Centro Norte e Extremo Norte, visando à diversificação da fruticultura, com geração de renda e emprego no meio rural. O abacaxi ‘Vitória’ já é plantado em vários estados do Brasil e também introduzido e avaliado na África e no México.

Mais resultados

A pesquisa também tem mostrado a viabilidade do aproveitamento dos resíduos do abacaxi ‘Vitória’ na produção de bromelina, produto com aplicação na indústria farmacêutica e de alimentos, tendo gerado o desenvolvimento de um novo processo de purificação dessa enzima, depositada com patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) – (PI10201027122). A continuação dos estudos gerou novos conhecimentos científicos relacionados à fusariose, com mais de 15 publicações científicas e gerando outras duas patentes, depositadas no INPI.

“Além da série de tecnologias de interesse direto para o produtor rural e para a economia do estado ligada ao agronegócio de abacaxi, a pesquisa também trouxe múltiplos conhecimentos para a ciência”, lembrou Aires Ventura.

Cultivar ‘Vitória’

A cultivar ‘Vitória’ apresenta características agronômicas semelhantes ou superiores em relação às cultivares ‘Pérola’ e ‘Smooth Cayenne’, que já são referências. As plantas têm como vantagem a ausência de espinhos nas folhas, o que facilita os tratos culturais, sendo as recomendações técnicas de cultivo as mesmas atualmente em uso pelos produtores para as outras duas cultivares.

A ‘Vitória’ possui praticamente o mesmo porte da ‘Pérola’ e plantas vigorosas. Apresenta bom perfilhamento, bom desenvolvimento e crescimento, produz frutos quando maduros de excelente qualidade para o mercado.  Os frutos têm polpa branca, elevado teor de açúcares e ótimo sabor nas análises químicas e sensoriais, sugerindo que suas características relativas à acidez são superiores às do abacaxi ‘Pérola’ e ‘Smooth Cayenne’, tendo ainda maior resistência ao transporte em pós-colheita, o que pode facilitar a sua adoção pelos produtores e ter a preferência dos consumidores.

Os frutos da ‘Vitória’ possuem um formato cilíndrico, casca de cor amarela na maturação, pesando em torno de 1,5 Kg. Por ser resistente a fusariose, essa fruta dispensa a utilização de fungicidas para o controle da doença, possibilitando a redução nos custos de produção por hectare, além de reduzir também os riscos de impacto ambiental e aumentar a produtividade comparativamente em, no mínimo, 30%.

“A cultivar veio suprir uma grande lacuna deixada pela ausência de uma cultivar de abacaxi resistente à fusariose, doença que ainda ameaça praticamente todo o território nacional, constituindo-se uma nova alternativa economicamente viável para os produtores e consumidores de abacaxi”, concluiu Aires Ventura.

Incaper

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