Citricultura brasileira já conta com inovador bioinseticida aliado no controle do vetor do greening

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Principal produtor de laranja e exportador de suco da fruta do mundo, o Brasil tem enfrentado desde 2004 uma das pragas agrícolas mais complexas para controle no que se refere às culturas de citros (laranjas, tangerinas, limões e limas ácidas). Trata-se do greening ou huanglongbing (HLB), doença causada pelas bactérias Candidatus Liberibacter asiaticus e Candidatus Liberibacter americanus. Relatos evidenciam a presença da doença nas principais regiões citrícolas do mundo, com exceção dos países do Mediterrâneo e da Europa. Na Flórida (EUA), cerca de 90% dos pomares estão contaminados.

Segundo o Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus), a estimativa é de que o greening foi responsável pela erradicação de mais de 45 milhões de árvores no parque citrícola paulista nos últimos 14 anos. O Brasil é referência no controle da doença. Atualmente, o greening está presente em 32,2 milhões de plantas frente há 194 milhões de árvores cultivadas. Nesse cenário, a citricultura ganha um novo aliado para o controle da doença, já que agora conta com o primeiro bioinseticida e importante peça inovadora no quebra-cabeça do controle do psilídeo Diaphorina citri, vetor de transmissão da doença. “O greening é um problema mundial e a transmissão se dá sempre pelo psilídeo. Além do Brasil, os EUA sofrem muito com as bactérias”, explica Diogo Rodrigues Carvalho, engenheiro agrônomo e gerente para grandes clientes da Koppert do Brasil.

A empresa, em parceria com o Fundecitrus e a Escola Superior de Agricultura “Luís de Queiroz” (ESALQ) da Universidade de São Paulo (USP) – campus Piracicaba/SP, desenvolveu ao longo de sete anos de pesquisa o Challenger, nome comercial da primeira alternativa biológica para o controle do psilídeo Diaphorina citri. O lançamento comercial oficial do produto foi feito no dia 23 de maio durante o II Simpósio Internacional de Greening, realizado em Araraquara/SP e promovido pelo Fundecitrus.

Pesquisa

Na ESALQ/USP os estudos foram conduzidos pelo professor Ítalo Delalibera Júnior e resultaram na seleção do fungo entomopatogênico Isaria fumosorosea. “Trata-se de uma grande conquista. É o primeiro produto biológico à base de Isaria fumosorosea no Brasil e existem poucos no mundo. É uma ferramenta com grande potencial e que vem contribuir muito com o setor da citricultura”, comemora o pesquisador.

“Estamos muito satisfeitos em poder oferecer ao citricultor uma ferramenta sustentável, que reduz o risco de seleção do Diaphorina citri, o que o torna resistente a inseticidas químicos. Estamos continuando a pesquisa e acreditamos que o produto possa ter controle em pragas secundárias da citricultura. O Challenger também pode ser associado à Tamarixia radiata, parasitoide inimigo natural do psilídeo Diaphorina citri, o qual o Fundecitrus produz em sua biofábrica, inaugurada em março de 2015”, detalha Juliano Ayres, gerente do Fundecitrus.

Para ele, o objetivo do Fundecitrus é contribuir com o manejo sustentável do greening, proporcionando um meio natural de reduzir a população de psilídeo e, consequentemente, diminuir incidência da doença nos pomares.

O greening doença mais severa e letal que afeta a citricultura mundial devido ao seu poder destrutivo, causando queda de produtividade e diminuição da qualidade do fruto e do suco. No Brasil, está atualmente presente nos estados de São Paulo (desde 2004), Minas Gerais (desde 2005) e Paraná (desde 2007).

Em São Paulo, ocorre em todas as regiões produtoras de citros localizadas em mais de 300 municípios, tendo sua incidência média estimada em cerca de 17% das plantas de laranja. Em Minas Gerais está presente no sul do Triângulo Mineiro (principal parque citrícola nacional), na região Sul e Sudoeste do estado, em cerca de 20 municípios. No Paraná, foi identificado em 89 municípios das regiões Norte e Noroeste, com incidência entre 10 e 15% de laranjeiras afetadas. A área de citros plantada em SP passou de 650 mil hectares em 2005 para 430 mil hectares em 2016, principalmente devido à saída de pequenos e médios citricultores com dificuldades de manejar a doença pelos custos e queda de produção.

Na Flórida (EUA), o greening foi descoberto em 2005. Devido à ausência de medidas efetivas de contenção do avanço da doença, como um sistema de produção de mudas em viveiros protegidos do inseto vetor, controle sistemático do psilídeo e, sobretudo, a eliminação de plantas doentes, a produtividade e a longevidade dos pomares caíram drasticamente na última década. De uma produção de 149,8 milhões de caixas em 2005/06, a safra de 2016/17 atingiu apenas 67 milhões de caixas (dados do USDA, o Departamento de Agricultura dos EUA). A produtividade dos pomares de laranja da Flórida que em 2004, antes da doença, era de 43 toneladas/hectare, atualmente é inferior a 24 toneladas/hectare. Na Flórida, de 2006 a 2014, o greening causou prejuízos estimados em US$ 9 bilhões ao setor e a perda de mais de 7.500 empregos.

A doença

Os sintomas se manifestam com o surgimento de ramos inicialmente setorizados com folhas amarelas e a presença de folhas mosqueadas ou com clorose (amarelecimento ou branqueamento) assimétrica.

Na medida em que a bactéria se espalha sistemicamente pelos vasos do floema da planta, ocorre obstrução do transporte de nutrientes dentro da planta e os sintomas tomam conta de toda a copa, inclusive das raízes, com a redução do sistema radicular, desfolha, brotações atípicas, definhamento da planta, presença de frutos deformados, de coloração esverdeada, imaturos e com sementes abortadas que caem prematuramente.

Plantas jovens infectadas nem chegam a produzir e plantas adultas infectadas têm sua produção reduzida em mais de 60% em quatro a cinco anos. Não há métodos práticos e viáveis para a cura da doença.

Mercado de citrus no Brasil

Dados do Fundecitrus de maio de 2018 mostram que a área plantada com citros nos parques com cultivo da cultura em São Paulo e no Triângulo/Sudoeste Mineiro abrange 465.635 hectares, divididos em 401.470 hectares com as principais variedades de laranja, 12.883 hectares com outros tipos de laranjas, 39.078 hectares de limões verdadeiros e lima ácida, além de 12.204 hectares com tangerinas.

As exportações brasileiras responderam por cerca de 60% do consumo mundial de suco de laranja. Em 2015, de acordo com os dados publicados pela Markestrat gerados a partir da TetraPak, estima-se um consumo de 1,938 milhão de toneladas nos 40 principais mercados de suco, que juntos somam quase a totalidade da demanda global. A cada cinco copos de suco tomado em qualquer parte do mundo, três foram produzidos no Brasil.

Uma estimativa da movimentação financeira de todos os elos da cadeia da citricultura no Brasil alcança US$ 14,6 bilhões. O setor gera, entre empregos diretos e indiretos, 150 mil posições estimadas a partir da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS). Foi o segmento que mais gerou empregos durante o ano de 2016 entre todas as categorias da agropecuária no Estado de São Paulo, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.

No último dia 9 de maio o Fundecitrus divulgou que a estimativa para a safra da laranja 2018/19 no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro deve ser de 288,29 milhões de caixas, de 40,8 kg cada. O número é 27,62% menor do que a safra passada, que foi a quarta maior da história, e 17,52% maior em comparação à safra 2016/17. A quantidade para esta temporada é 11% menor do que a média dos últimos dez anos.

Koppert Brasil 

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