A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) promoveu na manhã de sexta (29) uma transmissão ao vivo pelas redes sociais para debater a presença do setor privado brasileiro no mercado chinês.
O encontro virtual foi moderado pela superintendente de Relações Internacionais da CNA, Lígia Dutra, e contou com a participação do diretor do escritório da Investe SP em Xangai, José Mário Antunes, e da analista de Investimentos e consultora da CNA em Xangai, Camila Chen.
Um dos temas debatidos na transmissão foi o cenário econômico na China durante e após o pico da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). De acordo com José Mário, a crise econômica se agravou com o fechamento da província de Hubei, marco zero da pandemia, durante o feriado do ano novo chinês, no final de janeiro.
“Hoje a situação é de quase normalidade. Ainda há checagens de temperaturas em alguns ambientes, restrições de mobilidade e uso obrigatório de máscaras. Mas o reflexo dessa crise foi sentido no Produto Interno Bruto (PIB). No primeiro quadrimestre foi negativo, -4%, um resultado que não se via há muitos anos”, disse.
Segundo Camila Chen, durante a quarentena, o governo chinês se preocupou em garantir a segurança alimentar do país e os postos de empregos. “Foram divulgadas diversas medidas para salvar as empresas, como políticas para reduzir os impostos e para simplificar os processos administrativos”.
Ao longo da conversa, Lígia Dutra questionou os especialistas sobre os impactos da pandemia nas importações de produtos agropecuários. O diretor do escritório da Investe SP afirmou que o coronavírus surgiu na sequência de outras crises sanitárias.
“No final de 2018, a China teve um surto de Peste Suína Africana (PSA), que reduziu em 50% o rebanho suíno e mais de 20% da produção. Então há uma preocupação do consumidor chinês com a segurança alimentar e isso faz com que muitas empresas busquem alimentos no mercado externo. A tendência é que a importação de proteína animal continue em alta”.
Sobre o funcionamento do processo de exportação para o país chinês, a consultora da CNA em Xangai informou que existem cinco fases para um produto alimentício entrar no mercado.
“O primeiro passo é a manifestação do interesse em exportar o produto. Feito isso, o governo encaminha uma espécie de questionário, que deve ser preenchido. Em seguida, o processo entra em análise. Por fim, será definido o melhor acesso para o produto, que pode ser classificado em três níveis de risco: baixo, médio e alto”.
De acordo com Chen, para os produtos de alto risco, como carnes, é necessário um protocolo sanitário. Para os de médio, as empresas exportadoras precisam estar em uma lista recomendada pelo Ministério da Agricultura. Já os de baixo risco, que são produtos do comércio tradicional, como café e mel, é preciso um certificado fitossanitário.
Para Antunes, o mercado é muito complexo, por isso é importante saber escolher o parceiro certo. “É preciso ter uma boa empresa importadora do produto, pois é ela que vai cuidar de procedimentos de registro, rotulagem e análises laboratoriais”.
Durante a conversa ao vivo, a superintendente de Relações Internacionais da CNA falou do projeto Agro.Br, uma iniciativa da CNA, em parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), que engloba ações de internacionalização e promoção comercial de produtos agrícolas brasileiros.
“Existem várias formas de o produtor rural brasileiro acessar o mercado chinês. Ele pode contar com o apoio da Apex-Brasil, da Investe SP e, principalmente, do escritório da CNA em Xangai, que realiza estudos de tendências de consumos e oportunidades de negócio”. Para se inscrever no projeto acesse: www.cnabrasil.org.br/agrobr
Segundo José Mário Antunes, a Investe SP, em parceria com a CNA, vai iniciar na próxima semana uma pesquisa de campo detalhada para saber quais são as oportunidades no mercado, os principais competidores e o tipo de marketing que está sendo utilizado para divulgação de produtos.
“Precisamos conhecer os hábitos de consumo dos chineses e entender como podemos adaptar o produto para o tipo de consumo que eles estão acostumados. O Brasil tem de estar preparado para negociar, contar a história das empresas e dos produtos”, concluiu.
Ao fim do debate, Camila destacou a importância do comércio eletrônico como um canal de comercialização em ascensão. “O e-commerce é muito avançado na China. A população está acostumada a fazer compras pela internet porque a logística é muito rápida. A pandemia mudou os hábitos de consumo de diversos produtos, principalmente de alimentos”.
CNA