ESPECIAL: Gestão no agro

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Matéria publicada na Revista Campo Vivo – ESPECIAL MAMÃO DO BRASIL (Edição 47 – Dezembro 2021)


Gestão no agro

Com alta nos custos de produção e oscilações do preço do produto, gestão em propriedades e empresas de mamão torna-se essencial para garantir competitividade

Tão relevante quanto cuidar de toda parte da produção do mamão, desde a lavoura até a casa do produtor, lidar com o produto é como ter um negócio de portas abertas: é preciso fazer também a parte gerencial, financeira, a gestão de custos, o marketing, a venda do produto, entrega, e tudo que envolve o setor. Neste ano o Centro de Desenvolvimento do Agronegócio (CEDAGRO), divulgou os resultados do estudo “Coeficientes Técnicos e Custos de Produção na Agricultura do Estado do Espírito Santo”. A ampla pesquisa realizada, apresentou uma análise comparativa dos custos e receitas entre os produtos agrícolas e, consequentemente, avaliou a rentabilidade e a viabilidade econômica das diversas culturas elencadas neste trabalho.

O estudo apontou, entre outros resultados, que os custos de produção de várias atividades agrícolas, entre o período analisado de janeiro de 2019 a janeiro de 2021, tiveram elevação média de 14%, superior a inflação oficial do período que foi de 9%. Apesar disso, o valor pago pelos produtos agrícolas aos produtores rurais subiu cerca de 20% neste período analisado.

Dentre os itens que compõem os custos de produção, a maior variação observada foi a dos insumos, com aumento médio de 34,82%, contra 8,33%, sendo que os adubos se destacaram tendo um aumento de aproximadamente 48,74% em relação a janeiro de 2019.

Gilmar Dadalto, presidente do Cedagro

“A alta variação observada nos insumos pode estar relacionada a pandemia da Covid-19 que prejudicou o fornecimento e abastecimento do comércio de produtos agropecuários. Consequentemente, com a menor oferta, os preços aumentaram. Outra possível explicação é a cotação do dólar entre os anos de 2019 e 2020, com aumento de aproximadamente 32%”, explica Gilmar Dadalto, Presidente do CEDAGRO.

Apesar do menor aumento nos custos dos serviços, este item foi o que mais comprometeu os custos de produção, representando, em média, 64,27% do total contra 35,73% dos insumos. Algumas frutas como mamão, goiaba, abacaxi, maracujá, uva, banana da terra, tangerina e limão apresentaram alta rentabilidade média, acima de R$ 16.000,00 por ha/ano, para aqueles produtores que conseguiram obter altas produtividades.

Para o produtor André Agrizzi, do município de Sooretama/ES, esse não tem sido um momento fácil para quem vive da produção de mamão. Ele que sente na pele e no dia a dia as dificuldades para quem é produtor ressalta que neste ano a produtividade foi ainda menor do que o esperado, principalmente tendo em vista que foi um período de clima muito irregular e corte de plantas devido às viroses. “Nos últimos dois anos, o mercado do mamão vem se comportando muito mal. Na maioria dos períodos, os preços praticados não pagam o nosso custo de produção. No trabalho diário temos que lidar com vários fatores e desafios como a mão de obra com baixa produtividade, o preço de insumos elevados, o aumento na incidência de viroses como mosaico e meleira, sem falar nos preços abaixo do custo de produção. É um cenário alarmante e de muitas incertezas pela frente”, ressaltou.

Ainda segundo o produtor, a cultura do mamão é uma das mais difíceis de se conseguir reduzir qualquer tipo de custo, pois o mamão é uma planta que demanda uma certa quantidade de adubação correta que se não for feito adequadamente, acaba apresentando deficiência de forma muito rápida. “Em relação aos nossos custos, nós não conseguimos mexer na mão de obra, nem na parte de insumos e adubação, pois se reduzimos, automaticamente diminuímos nossa produção. Então acredito que esse é um momento de sermos cautelosos, reduzirmos as áreas plantadas, pois está realmente muito caro produzir. Se o mercado continuar se comportando da forma como está, praticando esses preços baixos principalmente para o agricultor, onde a fruta sai da roça em um preço que nem paga o nosso custo e chega no mercado a preços altos, ficará cada vez mais complicado trabalharmos”, afirma André.

O custo de produção está muito alto e o preço das frutas muito baixo, a conta não está fechando – André Agrizzi, produtor rural

Para Agrizzi, o que vem acontecendo no atual momento, devido ao aumento desses custos de produção e ainda a falta de insumo (além dos preços altos, há riscos de os produtores não conseguirem comprar), é a redução de produtores da cultura do mamão. “Já temos produtores diminuindo suas áreas de plantio, e outros que pretendiam plantar a cultura falando que não vão plantar mais, então mais uma vez ressalto que tudo é uma questão que envolve os custos de produção e o preço do nosso produto. O custo de produção está muito alto e o preço das frutas muito baixo, a conta não está fechando, então isso nos leva a crer que esses são os principais fatores que muitos produtores estão abandonando a cultura do mamão”, alerta o produtor de mamão.

O diretor executivo/técnico da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), José Roberto Macedo Fontes, destaca que apesar da preocupação do produtor rural se mostrar com mais intensidade sempre sobre o aumento da produtividade, a gestão de custos é, sem sombra de dúvidas, o fator determinante dos resultados financeiros da propriedade rural. “Apesar da cultura geral, na maioria das propriedades rurais, ainda ser de resistência aos registros e anotações, esta tarefa pode, em muito, facilitar a tomada de decisão do produtor em diversas ocasiões. E cada vez mais é perceptível o aumento do perfil do produtor empresário, onde suas decisões são tomadas com base no controle e gestão de custos, então isso é uma importante ferramenta, uma vez que, baseada na ciência aplicada, consegue fornecer ao produtor maior subsídio e segurança em suas atividades rurais, fornecendo cenários realistas ao mesmo”, destacou.

Para o produtor que ainda não faz a gestão de custos na sua propriedade e deseja começar, o diretor indica que há tarefas simples que podem ser iniciadas de forma imediata. “A gestão de custos, ao contrário do que muitos imaginam, como algo complicado e difícil, começa com tarefas simples de organização e controles. O simples hábito de anotar os seus custos e classificá-los ao longo da safra, já lhe permite uma avaliação geral bem produtiva, ou seja, um primeiro estágio da gestão de custos, que já lhe permite algumas decisões acertadas. À medida que o produtor vai se doutrinando neste controle, ele evolui para estágios mais avançados, sem complicações. Nestes casos, o suporte com a assessoria de um profissional competente na área trará grandes vantagens à administração de sua propriedade rural”, orientou José Roberto.

Carla Bortolozzo, Gerente Regional do Sebrae do Espírito Santo

Para muitos produtores lidar com os números, a alta e baixa do mercado, o aumento dos preços, fazer toda gestão dos custos do seu negócio ainda é um grande desafio, então pensando em ajudá-los, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) se coloca à disposição oferecendo diferentes benefícios e produtos direcionados para esse público. De acordo com a Gerente Regional do Sebrae do Espírito Santo, Carla Bortolozzo, o setor produtivo do mamão tem uma importância significativa na economia do Estado e também do Brasil, principalmente por ser um setor que tem foco na exportação do seu produto. “Falando em gestão, é primordial que as agroindústrias fortaleçam e ampliem o mercado fazendo a manutenção da sustentação do mamão de qualidade já produzido no Estado”, frisou.

Bortolozzo diz que para as micro e pequenas empresas apoiadas pelo Sebrae, há diversos tipos de apoio que “pegam na mão” do produtor apoiando-o em vários aspectos como na qualidade da análise de custos. “Nós orientamos o produtor também não só nos custos de produção, mas também na gestão de empreendimento, para que ele saiba que não vale a pena investir só na gestão de produção e deixar a gestão do negócio, a divulgação, a logística de entrega, a forma de comercialização e divulgação disso de lado. A gestão de custos da produção precisam estar embutidos no fluxo de caixa do produtor e é onde o Sebrae pode ajudá-lo a fazer essa análise transformando a produção de mamão num empreendimento com gestão à vista, que chamamos de “gestão acompanhada” para que assim a produtividade dele flua a partir dessa análise e acompanhamento que fazemos”, explica a gerente.

Para Carla, muitos são os produtores que anulam possibilidades existentes dentro do seu negócio, pois focam apenas em venda do mamão para o mercado exterior, sendo que existem várias outras possibilidades além disso. “Uma das primeiras coisas que o produtor precisa é conhecer sua capacidade produtiva e estruturar através dessa capacidade quais canais e locais ele tem a possibilidade de comercializar o seu produto, se é apenas local, ou para fora da sua cidade, Estado. Dependendo de onde ele quer e consegue escoar sua produção, ele precisa se preparar e criar mecanismos para divulgar isso. Sabemos que um dos principais canais de venda do mamão realmente é a exportação, mas o produtor também pode explorar como está o mercado interno, se está valorizando seu produto. Como muitos exportam o mamão, as vezes o interior compra de fora pois não conhece produtores da região. Então fazer esse trabalho de organização como apoiar o produtor nessa análise e criar o planejamento de comercialização inteligente da agroindústria é o que fazemos por ele”, ressaltou Bortolozzo.

Jhonatan Boa Morte, diretor de Projetos da Avila Consulting

Para Jhonatan Boa Morte, diretor de Projetos da Avila Consulting, empresa especializada em gestão e otimização de processos produtivos com experiência nos mercados nacional e internacional, principalmente, nos tempos atuais, quando estamos enfrentando uma alta dos custos com insumos, logística, entre outros, a gestão se torna extremamente importante. “Frisando, em especial, o segmento da fruticultura, onde sabemos que se comparada a outros países, nossos processos ainda necessitam de muito mais mão de obra. Então considerando esses fatores, podemos afirmar mais do que nunca que uma boa gestão é extremamente importante para o sucesso de uma organização”, alertou Jhonatan.

Para o diretor, uma gestão que esteja dentro dos parâmetros corretos podem maximizar as chances de a organização alcançar seus objetivos macros, pois, sabendo enxergar as oportunidades existentes, conhecendo os mecanismos de monitoramento, e sabendo engajar sua equipe em prol do alcance de metas estipuladas, é possível estar na direção do sucesso. Ainda segundo Jhonatan, para a sobrevivência de uma organização, é preciso atuar fortemente sobre os custos, compreender os mesmos, ter um bom entendimento sobre a diferença entre custos diretos e indiretos, fixos e variáveis e como eles podem afetar diretamente a margem de lucro da empresa no final do mês. “Com este conhecimento, é necessário mapear estes custos, classificando-os com base nos critérios mencionados, posteriormente monitorar e buscar entender suas oscilações e tendências para que possamos estipular metas e se antecipar perante os eventos indesejáveis. Uma ótima gestão dos custos, irá auxiliar o administrador na tomada de decisões mais clara e assertiva, potencializando os resultados e assegurando a satisfação dentro do que de fato foi estipulado e alcançado”, alerta Jhonatan.

Uma ótima gestão dos custos irá auxiliar o administrador na tomada de decisões mais clara e assertiva, potencializando os resultados e assegurando a satisfação dentro do que de fato foi estipulado e alcançado – Jhonatan Boa Morte, diretor de Projetos da Avila Consulting

Para finalizar, o diretor orientou os produtores do setor sobre a parte de comercialização. “Hoje infelizmente o que notamos no mercado, principalmente citando os que de fato estão iniciando, são empresários se baseando simplesmente pela margem de lucro, sendo que, antes de mais nada, se faz necessário entender seus custos, principalmente o de produção e a margem de contribuição de cada item produzido, para que desta forma seja possível identificar qual item poderá ser utilizado como ação de mercado e qual item realmente merece uma atenção comercial maior, sendo que este será aquele que realmente lhe proporciona uma margem maior e não, ou nem sempre, o que lhe gera a maior fatia da receita”, analisa.

Redação Campo Vivo

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