Cafeicultor aposta em conilon de qualidade produzido em terras altas no ES

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Foto: Vinícius Gonçalves/ TV Gazeta

Um caminho de luta, mas de conquistas. É assim que Giovanio Sering, cafeicultor de Alto Santa Joana, em Itarana, leva a vida na roça: incentivando e acreditando na produção de um café conilon especial.

A família Sering tem experiência com café. Giovanio, quando novo, já ajudava o pai na roça. Mas a tradição era de café arábica. A comunidade de Alto Santa Joana, em Itarana, fica em um local alto. O que, normalmente, é associado ao plantio de café arábica.

Mas os produtores perceberam uma mudança no clima, uma elevação na temperatura. Então, começaram a apostar no plantio de café conilon. Giovanio iniciou num caminho despretensioso, mas que o levou a uma posição de destaque.

Início

O produtor relembra que no início de tudo “até início dos anos 2000, essa região era praticamente toda arábica. A altitude média de 700 metros, a gente não via vantagem de ter o conilon. O conilon não carregava bem. O arábica sempre era superior. Mas parece que de um tempo pra cá, com o aquecimento global, o conilon foi ganhando espaço e a gente vê que vale a pena tá plantando conilon, a gente faz um consórcio com arábica”.

“E a grande vantagem é que com a altitude nos possibilita colher primeiro o arábica, quando está no final da colheita, a gente começa a colher o conilon 100% maduro. Essa é uma vantagem, por estar tirando qualidade no arábica e no conilon, colhendo na hora certa”, diz Giovanio.

E é qualidade a palavra chave, o divisor de águas na propriedade de Giovanio. Em 2010, ele plantou 700 pés de conilon. Hoje são, em média, 5.500 pés de conilon. Na produção de 2018, colheu 60 sacas piladas.

O conilon produzido na propriedade já ganhou dois concursos de qualidade na Coopeavi. No último, a amostra alcançou 90 pontos.

Giovanio explica que, na altitude em que está a propriedade, é difícil conseguir uma nota assim até mesmo no arábica. Então, foi uma grande alegria e uma motivação e tanto pra família.

“Esse café dele apresentou uma boa bebida, com nuances e sabores de cafés exóticos, como açúcar mascavo, um café um pouco caramelizado, com boa acidez”, analisa Elivelton de Oliveira, gerente de qualidade e degustador da Coopeavi, cooperativa a qual Giovanio faz parte.

As terras altas da propriedade do Giovanio contribuem para a maturação homogênea do conilon, mas não é o único segredo para o sucesso do café. Giliarde Cardoso, gerente da unidade café da Coopeavi, reforça que é um conjunto e não adianta ter uma propriedade em uma altitude elevada com potencial se o produtor não segue as orientações técnicas corretamente.

O cafeicultor, que já produzia café arábica de qualidade, utiliza toda a estrutura que tinha para tornar o seu conilon especial.

O processo é praticamente o mesmo do arábica. Do terreiro, para o despolpador, o conilon fica 12 horas na caixa de fermentação e, depois, vai para a estufa, para a secagem.

Nessa etapa, uma pessoa tem papel fundamental: a Rosimeri Sering, esposa do Giovanio. Ela é responsável por mexer o conilon na estufa. A secagem faz toda a diferença para a qualidade final do café.

Rosimeri abraçou a ideia do marido de produzir um conilon especial. “Ele é uma pessoa que tem um olhar muito positivo no futuro. Quando ele fez esses planos, eu já sei que vai dar certo. Por isso eu apoio, porque eu sei que vai dar certo. Sei que vai fazer diferença. Como já deu”, conta a cafeicultura.

O gerente da unidade café da Coopeavi, Giliarde Cardoso, diz ainda ainda que o café conilon de qualidade quebra uma barreira histórica.

“Quando o conilon começou a ser produzido aqui no estado existia muita lenda, que era bom para fazer bomba, para fazer tinta. Não era produto para consumo. Passados alguns anos, o conilon passou a ser usado para consumo, mas somente como alternativa num bland para reduzir os custos. Nos últimos anos, a disponibilização de cafés de qualidade no mercado já vem ajudando a construir uma outra imagem, onde ele não é só coadjuvante. Ele vai agregar algumas propriedades como maior corpo, até alguns aspectos como a longevidade”.

Mercado

A grande dificuldade ainda é o reconhecimento e a valorização do mercado. Mas existe um movimento para que esse cenário mude.

A Coopeavi, por exemplo, tem investido em um trabalho de padronização do café conilon especial produzido no Espírito Santo e também no convencimento de que vale a pena investir na qualidade do café conilon.

“É preciso produzir. Tendo mais produção, a gente procura mercado e consegue manter o mercado lá fora, com esses cafés especiais”, explica Elivelton de Oliveira, gerente de qualidade da cooperativa.

E é importante que seja um caminho trilhado em parceria. Giliarde lembra que é um conjunto. A cooperativa leva informação sobre métodos, pós colheita, ajuste de maquinário. Mas também aprende com o produtor, que é quem está na lida diária.

“O produtor faz um laboratório na lavoura. A gente leve informação e traz informação do campo. Essa parceria é a receita para o negócio dar certo”, explica Giliarde.

Se depender do Giovanio e de sua família, a conquista do mercado de conilon de qualidade é um caminho sem volta. “Depois que a gente tem filho, a gente não luta mais para nossa geração. A gente trabalha pensando nas gerações futuras. Se não acontecer hoje, vai acontecer no futuro.”

BSCA

Um exemplo de que o cenário tem mudado e o conilon de qualidade ganhado espaço veio mês passado. A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) liberou a filiação de produtores de conilon e robusta à entidade.

A diretora da associação, Vanusia Nogueira, explicou que a BSCA busca evidenciar a excelência de todos os cafés do Brasil e esta é a hora dos cafés conilon e robusta nacionais, por conta da maturidade em qualidade alcançada, a aceitação e o crescente interesse do mercado.

O Sistema OCB/ES, que representa as cooperativas capixabas, viu essa abertura como uma grande conquista e um passo que já era esperado, pois a qualidade dos cafés produzidos no Espírito Santo é reconhecida tanto nacionalmente quanto internacionalmente.

Segundo o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), o Espírito Santo é o maior produtor de café conilon do Brasil, responsável por entre 75% e 78% da produção nacional.

Além disso, é responsável por até 20% da produção do café robusta do mundo. São 40 mil propriedades rurais em 63 municípios, com 78 mil famílias produtoras. O café conilon gera 250 mil empregos diretos e indiretos.

TV Gazeta

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