Ungidas como protetoras do solo, muitas ervas daninhas, como a literatura agronômica genericamente as denomina, acabam de ganhar status de bem-aventuradas. São recomendadas para evitar o excessivo aquecimento do solo, melhorar a infiltração de água o e ajudar a controlar o escorrimento superficial da água da chuva. Com a crise hídrica se agravando, o mato passou a ser mesmo tratado de forma especial.
As recomendações tecnológicas para melhorar a proteção e o manejo do solo vão desde a melhor produção de biomassa vegetal, uso adequado de corretivos e fertilizantes, adubação orgânica, adubação verde, alternância de capinas, ceifa do mato, até chegar à cobertura morta, tudo visando o aumento da cobertura vegetal e da infiltração de água no solo.
Agora, quanto mais rápida e completa for a cobertura do solo com vegetais, menores serão as perdas com a erosão. O preparo adequado do solo, o uso correto de corretivos e fertilizantes, a manutenção da matéria orgânica, o manejo adequado do mato são práticas que agem simultaneamente na melhor infiltração e retenção da umidade no solo.
No passado, três vertentes eram consideradas no controle do mato: (i) O mato deveria ser totalmente eliminado, pois concorria com as plantas em unidade e nutrientes; (ii) Lavoura suja era sinal de desprestígio e até razão de certo “bullying” entre os meninos da roça que caminhavam juntos pela estrada, apreciando as lavouras, ruma à escola, e (iii) Algumas espécies de ervas daninhas eram mais toleradas pelas plantações do que outras, dentre elas as dicotiledôneas herbáceas eram mais bem tolerada do que a maioria das gramíneas.
Daí se derivava uma prática que se disseminou entre vários produtores, em diversas regiões do Estado. A capina seletiva do mato. Alguns gêneros e espécies de mato eram preferidos em relação a outros. Apenas para citar alguns, beldroega, capoeraba, várias espécies de picão (não o picão preto que era usado como remédio para o sistema urinário) e até algumas espécies de marmelada eram plantas preferências na seleção, eliminando-se outras gramíneas e dicotiledôneas que “absorviam a água, ressecavam o solo e criavam um micro clima indesejável na entre mato e plantas”.
Tinha um quê de verdade nisso tudo. Nas áreas das lavouras onde essas espécies mais amigáveis dominavam, havia mais frescor no meio do cafezal, e o solo era mais rido em matéria orgânica e mais úmido. Ao contrário quando a presença era de meloso, rabo de burro, capim seda, leiteira e sempre verde, dentre outros, o solo era mais árido e o micro clima nada agradável para o cafezal.
Talvez precisemos pesquisar mais sobre a adubação verde, aproveitando o poder de capturar nitrogênio das leguminosas, e ao mesmo tempo proteger o solo. A questão essencialmente é o manejo e deve se estabelecer uma relação Carbono(C)/Nitrogênio (N) mais adequada às lavouras de café.
Vejo com entusiasmo lavouras de café com entrelinhas protegidas. Acho que os produtores estão reduzindo herbicidas e usando mais roçadeiras no controle do mato. Mas sinto falta da presença de leguminosas. Acho que todos ganhariam com estudos mais aprofundados sobre adubação verde, seu manejo e produção de Nitrogênio, e estudos das relações C/N para diferentes manejos, visando dar fundamentos aos produtores rurais capixabas na condução das lavouras de café com adubação verde.
Wolmar Roque Loss
Engenheiro Agrônomo, Advogado. Mestre em Economia Rural e desenvolvimento Econômico
Artigo publicado na Revista Campo Vivo – Edição 33 Mar/Abr/Mai