Ultimamente, tem havido muitas reclamações, chegadas dos técnicos de campo, sobre falhas ou ineficiência de controle após aplicações de inseticidas, usados contra as principais pragas do cafeeiro, especialmente em relação contra o bicho mineiro.
Temos constatado pessoalmente esse problema de falta de eficiência em certos casos, em visitas em algumas fazendas, nas quais foram empregadas as recomendações conhecidas e atualizadas, em termos de produtos, doses e modos de aplicação de inseticidas, mas sem o resultado desejado. As maiores falhas de controle do bicho mineiro têm sido verificadas na cafeicultura dos cerrados, do Triângulo Mineiro, no Norte/Noroeste de MG e no Oeste da Bahia, regiões de clima um pouco mais quente e seco.
Nessas áreas têm sido utilizados diferentes produtos, via solo ou via foliar, com neonicotinóides, antranilamidas, spinosina, piretróides, tiocarbamatos e fisiológicos, que são, hoje, os principais grupos inseticidas registrados para o controle do BMC.
Discutindo com os técnicos de campo e observando as condições nas lavouras, temos verificado que o forte ataque do BM, em desequilíbrio, e a falta de controle podem estar relacionados a:
– Ocorrência de temperaturas altas e menos chuva nas áreas, influindo sobre a melhor condição para o ataque e, por outro lado, reduzindo a absorção/translocação dos produtos nas plantas.
– Uso, em doses elevadas de inseticidas vários, pra o controle da broca dos frutos, especialmente os a base de Clorpirifós. Doses maiores usadas foram devidas à menor eficiência dos produtos em relação ao tradicional, retirado de mercado.
– Desconfiança, sem comprovação, de aumento na resistência da praga aos inseticidas, provavelmente de forma quantitativa, exigindo aplicação de doses mais elevadas. Ressalta-se que os fatores normais de desequilíbrio de pragas são conhecidos, como sendo a ação de defensivos sobre inimigos naturais, a ação climática e a susceptibilidade da planta e dos insetos, por efeito do manejo e da seleção natural.
Com as aplicações indiscriminadas e de forma quase desesperadora de inseticidas, buscando contornar os problemas, houve desequilíbrio para outras pragas, secundárias. Assim, verificam-se ataques anormais de ácaros, de cochonilhas e de lagartas.
Agora, para que se possa ter mais segurança no controle, deve-se voltar à normalidade, assim:
– Cuidar para não exagerar no uso de produtos inseticidas;
– Fazer aplicações sequenciais, visando reduzir a população da praga, com combinação ou alternância de ativos;
– Sempre aplicar doses adequadas, agora devendo ser mais altas (não sub-doses) e com menor frequência, buscando quebrar o ciclo da praga. Buscar combinação de ativos que atuem, também, contra adultos;
– Ativar a liberação/registro de ativos novos;
– Ativar estudos para verificação de eventuais populações resistentes a inseticidas;
– Estudar as condições de absorção/translocação de alguns ativos, quanto a pH da água, condição de plantas estressadas, efeito de temperatura etc;
– Acelerar a introdução de variedades resistentes ao BM.
Por José Braz Matiello – engenheiro agrônomo da Fundação Procafé, Lazaro S. Pereira – engenheiro agrônomo da Agropecuária Ouro Verde e Leandro R. Freitas – engenheiro agrônomo da Campo Verde Agronegócios