A atuação dos bancos centrais desde a última crise, em 2008, viciou os investidores em ignorar as características microeconômicas (ou individuais) de classes de investimentos e simplesmente apostar na valorização de ativos em função da infindável expansão monetária.
A famosa “mão-invisível do mercado”, defendida por Adam Smith, desapareceu de vez. Aos que cautelosamente montaram estratégias baseados em fundamentos restou outra receita escocesa, a do scotch- whisky, para esquecer as oportunidades perdidas. Os que se jogaram de cabeça para comprar ações nas grandes quedas, como na última do Brexit, se deram bem, pois nos dias seguintes ao pânico promessas de estímulos foram renovadas e as bolsas voltaram a subir.
Há muito as oscilações tem respondido quase que imediatamente às declarações das autoridades monetárias, exceção à última quinta-feira quando Mario Draghi decepcionou em não estender a compra de títulos (também em função de uma limitada oferta). Na sexta-feira um dos oficiais que votam no FOMC (equivalente ao COPOM brasileiro) disse que vê condições para o aumento dos juros americanos neste ano, e o S&P500 desmoronou 2.5%.
O petróleo que havia subido em resposta a queda acentuada dos estoques de uma semana nos Estados Unidos – em função de problemas climático na região do golfo do México – devolveu os ganhos com a recuperação do dólar americano, o último responsável pela pressão generalizada nas commodities.
O café em Londres após fazer sete fechamentos consecutivos em alta – levando os preços para o mais alto patamar desde fevereiro de 2015 – encerrou a semana tecnicamente negativo, embora não muito distante das máximas. Muita proteção contra um movimento altista foi comprado até quarta-feira, entretanto nos últimos dois dias o volume de puts (opções de venda) foi de quase 20 mil lotes enquanto o de calls (opções de compra) foi de menos de 2 mil lotes.
Os diferenciais do robusta enfraqueceram como não se via há algum tempo, sinalizando que a continuação do movimento vai precisar de um maior apetite de compra dos fundos, provável no médio-prazo, mas não no curto. A história positiva do robusta mencionada por alguns analistas é explicada por uma eventual seca no Espírito Santo, mas em minha opinião caso isto aconteça o reflexo vai ser maior no arábica, dado que o Brasil não pode importar café e o país é o segundo maior consumidor do mundo.
O contrato “C” não ficou atrás na apreciação dos preços durante a curta semana, entretanto na sexta-feira tomou um tombo maior já que os produtores de café de praticamente todas as origens do arábica tem aproveitado para negociar seus grãos. A favor de Brasil, Colômbia, Honduras e Peru, por exemplo, tem também a desvalorização de suas moedas contra o dólar, fazendo dos preços de Nova Iorque convertido nas respectivas moedas ficar próximo ou atingir o mais alto nível (em alguns casos) dos últimos dezoito meses.
Na principal origem o volume negociado no mercado físico local e de exportação foi reportado pelos agentes como sendo bastante grande, barateando a reposição para o alívio de alguns e permitindo ofertas no FOB mais descontadas.
A vantagem para os brasileiros é a alta taxa de juros que permite aos produtores vender café até da safra 2018/2019 a preços nominalmente próximos das máximas históricas, o que lá na frente pode mais uma vez pregar uma peça nos desavisados quanto a uma eventual pressão vendedora, mas no curto-prazo limita os ganhos do terminal.
Prova do que foi escrito no último parágrafo é o aumento da posição dos comerciais divulgada no último relatório de comitentes, o COT, com a venda de 12,543 lotes vendidos entre os dias 31 de agosto e 6 de setembro – ou o equivalente a 4.8 milhões de sacas de sessenta quilos.
A proximidade da entrada da safra dos cafés suaves da América Central e Colômbia juntamente com uma posição dos fundos novamente na casa dos 40 mil contratos comprados e o fechamento negativo semanal de Nova Iorque pode trazer uma realização de lucro para a bolsa – leia-se queda dos preços.
Claro que como coringa há sempre a chance de uma nova (velha) decisão de algum país rico resolver injetar mais liquidez no sistema, revertendo qualquer análise micro em detrimento da influência macroeconômica.
Rodrigo Correa da Costa
Consultoria / ExtensãoRural