O ano de 2015 foi marcado pela seca em toda região Norte e Noroeste do Espirito Santo, e também no sul da Bahia. As chuvas vieram em janeiro de 2016 e com ela a renovação da esperança dos cafeicultores em ter uma boa safra.
O volume de chuvas foi bom para o mês de janeiro, mas longe de ser o suficiente para encher todos os reservatórios e recarregar as aguas subterrâneas que abastecem as nascentes, restando ainda um grande déficit que necessita ser preenchido não só com chuvas, mas também com o uso racional da agua durante o restante do ano.
Como ocorrido em 2015, a distribuição dessas chuvas foram bem variadas indo desde 120 mm até 350 mm em algumas localidades, mas pelo menos dessa vez elas ocorreram de forma generalizada. Este fato proporcionou aos nossos consultores técnicos de campo a possibilidade de terem uma visão sistêmica que será apresentada neste texto, sobre os reflexos da seca, combinado com as infestações de pragas e ocorrência de doenças no panorama de produção da cafeicultura do Sul da Bahia e Noroeste do ES, regiões de atuação da Cooabriel (Cooperativa Agrária de Cafeicultores de São Gabriel).
A volta da agua juntamente com a elevação da temperatura fez com que o crescimento de ramos, que até então estava estagnado, voltasse a ocorrer nos dias quentes e úmidos da primeira quinzena de janeiro. Este crescimento vegetativo é o que garantirá a produção em 2017, por isso é tão importante que ocorram mais chuvas e que a adubações e controle de pragas e doenças sejam realizadas corretamente. Devido a florada tardia ocorrida em novembro, produtores que reduziram ou pararam de irrigar antes de setembro, possuem lavouras que apresentam grandes quantidades de grãos em água. A desuniformidade nos estágios de granação é tão grande que é comum se encontrar na mesma verganta grãos granados e grãos em água (FIGURA 1), o que poderá ocasionar um prejuízo na hora do beneficiamento.
Figura 1
O produtor deve ajustar as adubações e o regime de irrigação de acordo com a situação vigente. Os grãos que ainda não estão completamente granados necessitam de adubações maiores e mais frequentes, sobretudo a potássica, quando comparado ao mesmo período de um ano chuvoso. As irrigações também devem ser mais frequentes, no intuito de propiciar uma condição favorável tanto ao crescimento vegetativo quanto à granação.
Como já era esperado a escaldadura dos ramos e grãos ocasionada pelo sol, foi intensificada pelo pouco desenvolvimento vegetativo que fez com que as copas ficassem menos densas que o normal para época (FIGURA 2). Isto além de ocasionar o abortamento quase que por completo do chumbinho oriundo das últimas floradas, faz com que grãos com estado de desenvolvimento avançado também sejam cascas queimados (FIGURA 3).
Figura 2
Figura 3
Os frutos que se desenvolveram entre os meses de outubro/novembro, proveniente da primeira florada e principalmente nos clones precoces, apresentam uma perca significativa com o “chochamento” (FIGURA 4) ocasionado pelas altas temperatura, alta radiação solar e água insuficiente, pois a evapotranspiração (transpiração da planta + evaporação do solo) atingiu uma demanda acima de 6 mm/dia, correspondendo ao consumo de água superior a 15lt/planta/dia. Estes fatores fazem com que os grãos remanescentes nas plantas dos clones mais precoces tenham um rendimento menor no beneficiamento, podendo chegar a conversão de 8 sacos de 80 litros de café maduro para uma saca pilada de 60 kg ( na normalidade essa conversão é de 4 para 1).
Figura 4
Com a chegada das chuvas, os grãos chochos que ficaram na planta nos clones médios e tardio foram abortados, ficando somente os frutos que estavam na fase de chumbinho e em água. Provavelmente os grãos restantes ficarão menores e com a casca mais fina, o que fará com que os prejuízos sejam vistos no momento de colheita (sacos maduros na roça) e não no beneficiamento, principalmente dos clones tardios onde se acredita obter um melhor rendimento. Haverá uma redução na eficiência nas máquinas na hora da pilagem (descascamento do fruto) devido ao tamanho variável dos grãos.
Após as chuvas de janeiro a cochonilha da roseta (Plasnococcus citri) (FIGURA 5) voltou a assombrar os cafeicultores, devido ao maior tempo dos frutos em fase de chumbinho o que predispôs a planta ao ataque da praga, pondo em risco os de grãos que ainda estão nos pés de café. Os produtores que não possuem assistência técnica adequada e que não fizeram as aplicações no solo com inseticidas sistêmicos na hora certa, estão entre os mais prejudicados com essa praga. Já o ácaro vermelho (Oligonychus ilicis) (FIGURA 6) encontrou na chuva uma situação contrária à sua infestação, sendo facilmente controlados com acaricidas que atuam em todas as fases da praga.
Figura 5
Figura 6
Dentre todos os fatores que ocasionam perdas, o fator climático realmente sempre será o mais importante na agricultura. É ele que torna o ambiente favorável a propagação de pragas e doenças, é ele que define o desenvolvimento das plantas, e com o café não podia ser diferente. A seca aliada às altas temperaturas foi o maior fator para quebra com café conilon em 2016.
Mesmo com todos os problemas apresentados, o produtor de café de conilon, não possui perda total em sua lavoura. De acordo com nossos técnicos de campo que realizam visitas periódicas em 16.272 há de café, a perda de safra está em torno de 30% a 35% ao total que era esperado. Em verdade sabemos que o clima e o manejo das lavouras, pode mudar essa realidade até o momento da safra.