ARTIGO – Multiplicação in vitro a partir de plantas do mamoeiro ‘Tainung 01’

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*por Ailton Geraldo Dias

Introdução:
O centro de origem do mamoeiro (Carica papaya L.) é o Continente Americano, região próxima ao Golfo do México (sul do México e o norte da Nicarágua). Hoje, seu cultivo se encontra amplamente distribuído em várias regiões tropicais, compreendidas entre os trópicos de Câncer e de Capricórnio, a 21 0 de latitude Norte e Sul. No Brasil, sua introdução é datada em 1587 e seu cultivo, hoje, pode ser observado em todos os Estados.

No Brasil, o cultivo do mamoeiro se sustenta em estreita base genética a partir de cultivares do grupo Solo (de polinização aberta) e do grupo Formosa (híbridos).

No primeiro grupo estão as cultivares “Sunrise Solo”, procedente da Estação Experimental do Havaí (USA), introduzida no Brasil no início da década de 1990; “Improved Sunrise Solo” (ISS – Line 72/12), introduzida no Brasil em fins da década de 1990 e melhorada pela equipe da Emcapa (hoje, Incaper); e, a cultivar Golden (incluindo THB); e, também seleções obtidas por produtores (BS 2000) e pela Rubisco Genética em Papaya (Aliança). Existem outras cultivares, de reduzido uso, como a Kapoho Solo; a Waimanalo; a Higgins; e, a Baixinho de Santa Amália.

No segundo grupo estão as cultivares híbrido “Tainung 01” e “Tainung 02”, do grupo Formosa (desenvolvidas na Estação Experimental de Fengshan, em Formosa, na China; resultante do cruzamento entre as cultivares Sunrise Solo e uma seleção da Costa Rica). Suas sementes são importadas de Taiwan; também a cultivar híbrido Calimosa (primeiro híbrido brasileiro tipo formosa, desenvolvido a partir das seleções UENF-Caliman 01); e, outras cultivares como o híbrido Mel (desenvolvido pelo produtor e pesquisador Ricardo Martins) e o híbrido Rubia Preciosa, da Rubisco Genética em Papaya, do pesquisador Eng. Agrônomo D.Sc. Melhoramento Genético Vegetal, Sérgio Lucio David Marin.

Mudas clonais do híbrido Tainung
De acordo com Platão, a necessidade é a mãe da invenção. E Zygmunt Bauman, em seu texto “Modernidade Líquida” aponta que “(…) houve muitas crises na história da humanidade, muitos períodos de interregno, nos quais as pessoas não sabiam o que fazer,… mas elas sempre acharam um caminho”. Mais recentemente, assumiu-se que o momento atual é um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo (Mu-Vuca – mundo vuca, acrônimo, do inglês, volatility-uncertainty-complexity-ambiguity). Esse termo surgiu no ambiente militar, na década de 90, tendo sido utilizado pela U.S. Army War College para explicar o mundo no contexto pós-guerra Fria, no entanto, passou a ser aplicado também para o ambiente corporativo e do agronegócio, no enfrentamento dos novos desafios, seja para os profissionais seja para as organizações. Deste final de 2019, os produtores de mamão têm enfrentado um quadro delicado de escassez de sementes, com o consequente impacto sobre os custos de aquisição, impondo, entre outras ocorrências, redução da área de plantio. Essa “crise” abriu a oportunidade, uma nova janela para a nova tecnologia: “mudas clonais de mamoeiro”, obtidas a partir tecidos de plantas hermafroditas.

A cultura de tecidos emerge, neste contexto, como uma alternativa promissora, pois poderá fornecer aos produtores mudas com sexo definido (dispensando a sexagem no campo), alto padrão de qualidade e em quantidade suficiente para atender à demanda comercial, em qualquer época do ano. No Brasil, duas empresas já disponibilizam mudas clonais do mamoeiro (híbrido Tainung 01): a SBW do Brasil Laboratório de Bioteconologia Vegetal, com sede em Holambra, SP; e, a Top Gene Biotecnologia e Agricultura Ltda, com sede em Icapui, CE.

Planta clonal (cultivar Formosa)

Área de cultivo com plantas clonais (Fazenda da Lapa – Everaldo Schumacher e Renato Mielk – Município de Boa Esperança Formado com mudas dos dois laboratórios

As primeiras áreas de cultivo, no Estado do Espírito Santo, foram implantadas a partir de julho de 2021. No início de 2022 serão realizadas as primeiras colheitas, o que permitirá avaliações mais completas sobre a qualidade final dos frutos e determinará o êxito dessa nova tecnologia.

 

Artigo publicado na 47ª Edição da Revista Campo Vivo (Edição Especial – Mamão do Brasil)

*Ailton Geraldo Dias – Engenheiro Agrônomo CREA-MG: 45667/D Visto CREA-ES: 314/91
Professor, Pesquisador e Consultor

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