ARTIGO – Mamão do Brasil: Sinônimo de qualidade, graças às restrições impostas pelo mercado internacional

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por José Roberto Macedo Fontes*

Que o papaya brasileiro é sinônimo de qualidade no mercado internacional ninguém duvida. Foram décadas de aprendizado na busca de uma fruta ideal para a exportação. Grandes contribuições tecnológicas foram dadas, inicialmente, pelas empresas precursoras associadas BRAPEX – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya. Épocas de grandes avanços na pesquisa e desenvolvimento do produto exportação.

No final da década de 90 e início dos anos 2000, pelos esforços individuais das empresas exportadoras e pelos esforços da Brapex, recém criada, o setor bateu recordes de produção científica aplicada ao produto exportação. Estes avanços provocaram farta colheita no crescimento exponencial dos volumes exportados e das valorosas receitas advindas deste mercado. Destaque para a abertura do mercado americano e pela tecnologia do transporte marítimo. O mundo conheceu o valioso papaya brasileiro e, por vários anos, não questionou a nossa supremacia. Assim, Linhares e região passou a ser referência internacional no papaya tipo exportação. Tecnologias aqui adotadas foram levadas para diversas outras regiões, incluindo outros países, que hoje são nossos concorrentes no mercado internacional.

Infelizmente, após poucos anos de colheita de excelentes resultados comerciais, o setor deitou em berço esplêndido e viu alguns desafios, que poderiam ser facilmente transponíveis, caso a produção científica continuasse aplicada, se tornarem grandes ameaças ao mercado internacional da fruta. Destaca-se aqui o aparecimento de novas pragas (algumas, inclusive, quarentenárias) do mamoeiro e a quebra da patente e, consequentemente, saída do mercado do eficiente fungicida pós-colheita contra as podridões do mamão (o Procloraz). Este fato enterrou de vez a exportação marítima desta fruta, pela região sudeste. Frente a esta situação, as empresas exportadoras se veem na obrigatoriedade de perder grande parte de suas margens de ganho com a mudança para o modal aéreo, que antes se prestava apenas aos nichos de mercado que pagavam um alto valor agregado ao produto premium exportação.

No entanto, este grande golpe no setor, de ameaça, passa a ser uma oportunidade na busca de novos mercados mais exigentes, viabilizando os altos custos do transporte aéreo. Daí, a gestão integrada da qualidade e a busca da melhoria contínua da lavoura aos processos pós-colheita no Packing House, incluindo a necessidade de uma gestão de custos mais eficiente, foram a saída para as empresas exportadoras buscarem, de fato, os padrões internacionais da segurança do alimento comercializado, da responsabilidade sócio-ambiental e da supremacia nas relações internacionais.

Mas, como acontece em qualquer relação comercial internacional, as barreiras comerciais travestidas de barreiras técnicas começaram a se intensificar após esta busca pelos mercados mais exigentes. Logo, logo, o livre comércio, que deveria ser o modelo de mercado no qual a troca de bens e serviços entre países não é afetada por restrições do estado, chega, atualmente, quase ao protecionismo, com a política econômica dos países importadores e seus blocos econômicos, restringindo o comércio dos produtos agropecuários brasileiros.

As barreiras comerciais travestidas de barreiras técnicas começaram a se intensificar após esta busca pelos mercados mais exigentes

Hoje, a restrição de princípios ativos / moléculas de defensivos químicos na Europa chega a ser surreal. Haja vista que mais da metade dos defensivos agrícolas registrados para uso na cultura do mamão são de uso proibido nos papayas produzidos para exportação. Sem falar que as redes de supermercados europeus impõem ações ainda mais restritivas, com limites ao número de moléculas por análises e percentuais de atingimento do limite máximo de resíduo estipulado pela legislação do país importador. Isto gera um colapso em nossos campos de produção do mamão tipo exportação, num país tropical, onde o ataque de pragas é imensamente superior e numa cultura ainda com suporte fitossanitário insuficiente para as pragas existentes.

Somado a isso, no mercado nacional também temos um forte contrassenso, onde a população brasileira, apesar de poder consumir uma fruta de padrão exportação sem pagar mais por isso, é obrigada a contribuir com um mercado injusto, uma vez que frutas sem qualquer padrão de qualidade e segurança do alimento, produzidas sem nenhum cuidado higiênico, ambiental ou trabalhista, concorrem no mercado nacional com as frutas padrões internacionais, nos mesmos patamares de preços. Apesar de defendermos um comércio livre, onde os preços são reflexo da verdadeira oferta e procura, precisamos também atentar que, nas gôndolas dos supermercados não estamos comparando os mesmos padrões de qualidade nos diversos mamões disponíveis para compra. Lei da oferta e procura sim, mas de forma igualitária entre produtos de mesma classificação.

Artigo publicado na 47ª Edição da Revista Campo Vivo (Edição Especial – Mamão do Brasil)

*José Roberto Macedo Fontes é Engenheiro Agrônomo, Doutor em Fitotecnia, Diretor Executivo da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex)


A Campo Vivo não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos

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