ARTIGO: Breve balanço do agronegócio capixaba em 2019 e perspectivas para 2020

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por Enio Bergoli, Engenheiro Agrônomo do Incaper e Ex-Secretário de Estado da Agricultura

O ano de 2019 se encerrou com muitos fatos relevantes para o agronegócio capixaba, positivos e negativos. No conjunto, algumas cadeias produtivas tiveram avanços e outras muitas dificuldades, em face de vários fatores, dentre os quais destacam-se clima, crédito rural, comportamento de preços, de oferta e de demanda, dentre tantos outros que contribuem para lucro ou prejuízo no elo da produção agropecuária.

O regime de chuvas teve um comportamento mais próximo das médias históricas de precipitação, fato que foi deixando para trás o flagelo da seca histórica de fins de 2014 até 2017. Mesmo aquelas atividades perenes fortemente castigadas, como cafeicultura e pecuária de leite, já foram praticamente restabelecidas. Mas, os agricultores não devem relaxar. Muito pelo contrário, ao olhar pelo retrovisor, devem avançar na reservação de água e em métodos mais eficazes de irrigação, que consumam menos água e energia.

Por mais um ano seguido, os números do Espírito Santo no crédito rural, principal indicador de dinamismo na agropecuária, foram decepcionantes, ficando muito abaixo daqueles obtidos em 2014, quando foram firmados 69,1 mil contratos, envolvendo recursos da ordem de 3 bilhões de reais. Embora os dados de 2019 não estejam fechados, o número de contratos deve ficar abaixo de 23 mil e o montante aplicado será inferior a 2 bilhões de reais. Portanto, uma redução de 67% na abrangência e de 33% nos recursos destinados à melhoria dos cultivos e criações.  

O comportamento dos preços agrícolas variou muito entre os diversos produtos e também ao longo dos meses, em 2019. Para o café Conilon, presente em quase 50 mil estabelecimentos rurais e principal atividade agrícola capixaba, os preços foram baixos na maior parte do ano. Só sofreram um pequeno acréscimo a partir de fins de outubro e novembro. Os preços do café arábica seguiram mais ou menos a mesma tendência daqueles praticados pelo Conilon. Contudo, para os cafeicultores que produzem próximo à média estadual de produtividade, e abaixo dela, para as duas espécies de café, os preços ficaram aquém dos custos de produção.

Os preços da pimenta-do-reino situaram-se muito abaixo de anos anteriores e os do látex da seringueira também desanimaram heveicultores, pois estiveram aquém dos custos de produção. O segmento da bovinocultura de corte vibrou muito com os ótimos preços praticados, principalmente de outubro em diante. Quanto ao leite, nada de grandes sobressaltos nos preços que não fossem inerentes à sazonalidade da produção durante o ano. Os preços do mamão e do cacau também foram considerados bons pelos agricultores, ao longo de 2019. Assim, alguns segmentos agropecuários chegaram ao fim do ano com otimismo e outros com preocupação.

E para 2020, quais são as perspectivas? Primeiro deve se registrar que os mercados estão cada vez mais exigentes. Produzir a custos baixos produtos com qualidade, sem resíduos, conservando os recursos naturais, observando as legislações trabalhistas e ambientais são premissas para a permanência dos agricultores no mercado, cada vez mais competitivo e cruel com as ineficiências.

Por ter uma base agrícola fortemente exportadora para outros estados da federação e também para outros países, as perspectivas do desempenho do agro capixaba em 2020 dependem muito do comportamento da economia mundial e nacional, dos conflitos políticos internacionais, da escalada protecionista dos mercados, além da consistência e abrangência das políticas agrícolas nacionais, dentre outros fatores relevantes.

As eleições norte-americanas, a guerra comercial entre os gigantes Estados Unidos e China, as tensões e conflitos no Oriente Médio e na América Latina, o desenrolar Acordo Mercosul e União Europeia, são assuntos impactantes em mercados estratégicos e importantes para os nossos produtos agrícolas, em 2020. Apesar de todos esses ingredientes, as perspectivas é que tenhamos um 2020 melhor que 2019 para a maioria das cadeias produtivas do agronegócio capixaba e nacional.

Este artigo foi publicado na 44ª Edição da Revista Campo Vivo

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