ESPECIAL – Azedo e rentável

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081A Lima ácida Tahiti, chamada popularmente de limão Tahiti, é uma planta tropical de rápido crescimento, que alcança quatro a seis metros de altura. O fruto não tem semente, por isso é líder de mercado no mundo. A produção no Espírito Santo não é novidade, mas seu cultivo era muito tímido, mais ao sul do estado, na região de Itarana. Em 2010, a empresa Bello Fruit, tradicional no mercado de mamão, investiu na cultura em São Mateus, e fez do município o maior produtor da fruta cítrica do ES. São 126 hectares de limão tahiti em plena produção. Da lavoura saem toda semana de três a quatro caminhões carregados, totalizando uma colheita de até 60 toneladas semanais. A lavoura em São Mateus foi plantada em cinco etapas. Por isso, a colheita vem ocorrendo aos poucos. Só agora, entre 2016 e 2017, a lavoura chega à fase adulta. Mas a produção no município já gera emprego direto para mais de 60 famílias o ano inteiro.

Ulisses Brambini, diretor da Bello Fruit, conta que foi um desafio, mas que nada foi feito sem planejamento. “Antes de plantar, pesquisamos o mercado. Foram três anos de estudos e pesquisas antes de implantar o pomar”, lembra. Segundo Ulisses, a ideia de cultivar limão surgiu depois que as regiões de São Paulo e Paraná, que plantam muito citrus, estavam com muitos problemas econômicos com a venda do limão e da laranja, porque as indústrias estavam pagando muito abaixo do custo, e milhões de pés desses frutos foram cortados e plantações eliminadas. “A gente sabe que o consumo só tem tendência de aumentar e não de diminuir. Com isso, percebemos que era uma oportunidade. Vinculado à oportunidade do negócio, veio a nossa região que é favorável para plantar citrus. Aqui é maravilhoso pra plantar citrus. Espírito Santo e sul da Bahia tem solo muito bom para citricultura”, diz Ulisses.

Para a lavoura em São Mateus, o produtor lembra que a parte de implantação foi a de maior custo porque todas as mudas são de viveiros registrados, com todas as certificações e garantia da muda, para evitar problemas já na base da planta. Outro custo é com a implantação do sistema de irrigação já que antes de preparar o solo é preciso ter água para irrigar. De acordo com o produtor Ulisses, o mais difícil é logo após introduzir as mudas no campo. É preciso cuidar em torno de dois anos e oito meses a três anos e meio pra começar a ter produção dos frutos. “O custo inicial não é pequeno. O investimento é a longo prazo, porém estamos contentes com o resultado”, afirma Brambini.

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O fruticultor Ulisses Brambini aposta na cultura do limão em sua propriedade no município de São Mateus

A novidade aqui foi a escolha das variedades para formação da muda através de enxertia. “Esse sim, foi um desafio. Eles usaram a variedade ‘fly dragon’ que nenhum especialista indicaria, porque é uma variedade que não é resistente à seca. E deu muito certo, porque a produção foi muito alta”, avalia Erli Röpke, técnico da área de sementes e mudas. A experiência também proporcionou um pomar que produz limão o ano inteiro.
O mercado está em expansão. Segundo Brambini, toda a produção da Bello Fruit tem destino certo. Além do mercado interno, o consumo externo tem aberto as portas para o limão tahiti brasileiro. Hoje, além de mandar o fruto para vários estados brasileiros, a empresa já exporta o limão para a Suíça e Alemanha. “A demanda é muito maior que a minha oferta. Se tivesse limão suficiente, hoje atenderia tranquilamente os mercados da Rússia e Emirados Árabes principalmente. O mercado externo é muito forte, mas ainda não temos produção suficiente para atender”, relata Ulisses.

Por enquanto, o volume de exportação do limão que sai do pomar de São Mateus é pequeno. Apenas 10% da produção. Mas a previsão é que ainda este ano, o volume destinado ao mercado externo aumente para 30%. O preço é outro fator atraente. No mercado interno, o quilo é vendido hoje a R$ 0,60. Já para exportação, o fruto é cotado a $ 3,70 (três euros e 70 centavos), ou seja, o equivalente a cerca de R$ 16 o quilo.

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Técnico Erli Ropke diz que pomares capixabas estão livres das principais pragas que atacam os limoeiros

De acordo com o especialista em mudas, Erli Röpke, para começar a produzir limão, o produtor deve primeiro pensar onde vai comprar as mudas, porque uma muda pode carregar muitas pragas com ela. O técnico salienta que os pomares capixabas estão livres das principais pragas que atacam os limoeiros, aquelas chamadas de quarentenárias que são de alto risco, como a CVC e a Citrus Greening. Os viveiros são todos originados através de enxertia. No caso do pomar cultivado em São Mateus, Erli ressalta que a variedade fly dragon, utilizada como porta enxerto, é altamente produtiva. No entanto, a desvantagem é que a planta precisa ser irrigada, pois não é resistente à seca.

Na propriedade em São Mateus, através de uma parceria entre a Bello Fruit, a Frucafé, e a Unidade da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) da Bahia, estão sendo testadas mudas com diversas variedades de porta enxertos trifoliatas (chamados popularmente de ‘cavalos’), e copas no processo de enxertia. São oito linhas em teste com 36 plantas cada uma. O objetivo é medir o tamanho das copas, a produtividade, e as características do limão, para se chegar a um produto tipo exportação e plantas e frutos resistentes ao solo e ao clima, e que possam produzir o ano todo.

Segundo Ulisses, no momento a produção está restrita à fazenda Rio Preto em São Mateus, de propriedade da Bello Fruit. A empresa não pensa em parcerias com outros produtores em função do momento que o país atravessa. “O mercado está aberto e com grandes perspectivas. Quem quiser investir tem retorno. Não importa o tamanho do pomar ou da produção, mas tudo o que fizer, se bem feito, e sempre com segurança alimentar, dará resultados”, acredita o empresário.

Matéria publicada na Revista Campo Vivo – Edição 29 – Março/Abril/Maio 2016

Redação Campo Vivo

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